Homem Quieto

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  Joinville emendou o feriado de Corpus Christi - na segunda metade do mês de junho - para sediar, nos pavilhões da Expoville, o grandioso S...

 

Joinville emendou o feriado de Corpus Christi - na segunda metade do mês de junho - para sediar, nos pavilhões da Expoville, o grandioso SuperXP. Com a satisfação de lá estar expondo, presenciei o esplendor em forma de festa e celebração cultural promovida pelo entretenimento. Centenas de jovens circularam entre grandes atrações, tendo consigo as mais variadas expressões de personalidade. Foi cativante encontrar um público evocando os seus desejos de liberdade e autenticidade exclusivamente possível a quem realmente se permite voar.

 
Cada espaço do SuperXP foi uma atração à parte. Os participantes trouxeram a alegria, a criatividade, juntamente à vivência de verdadeiros sonhos ilimitados. Foi sensacional passear por aqueles corredores sob o clima que causava o mais puro encanto. Com imensa gratidão por ser presenteado com tudo o que tornou favorável a minha participação em meio àqueles momentos célebres e memoráveis, considero-me, com isso, privilegiado em minha jornada artística. A mesa onde expus recebeu a atenção na medida esperada, compartilhada com os jovens e muito talentosos artistas do "Hall dos Artistas".
A sensação de segurança e de acolhimento por parte dos organizadores e de todos os demais foi inigualável. Tudo convergiu para uma das melhores experiências dentre todas as semelhantes onde estive. Não foram exploradas todas as possibilidades oferecidas pelo evento, pois só pude permanecer lá até sábado à tarde. Precisávamos, eu e meu irmão, voltar a Criciúma antes do momento que prometia mais visitantes: o domingo - tornando, assim, nossa despedida um pouco precoce.

Como tocamos na palavra "despedida", é o momento no qual digo adeus às passagens em eventos geeks e congêneres. Após nove anos de peregrinação entre feirinhas, grandes feiras, convenções e demais encontros, encerro tudo por aqui. Continuarei produzindo minhas coisas, desenhando e escrevendo quadrinhos, mas entro em aposentadoria das demais atividades. Foi um período realizador que deixo para trás. Não encaro essa decisão com tristeza ou sentimentos ruins, guardo sim, boas memórias para levar para sempre comigo.


E, concluo, afirmando que tudo isso foi por livre escolha, sem outros motivos senão minha própria vontade. Se alguém me perguntar "porquê"... não terei nada a dizer. Apenas acho melhor. E, como comentei com meu irmão, o SuperXP foi uma ocasião à altura desse término. Senti como um grande e caloroso abraço em uma passagem para uma outra fase e para horizontes diferentes. Fiquei com um sabor muito especial e uma impressão de que a hora de parar aconteceu de um modo extremamente gratificante.

  Prefiro deixar à parte as faces mais populares sobre o ofício de Design Gráfico. Todas as tiradas humorísticas já foram exploradas ao pont...

 

Prefiro deixar à parte as faces mais populares sobre o ofício de Design Gráfico. Todas as tiradas humorísticas já foram exploradas ao ponto de me cansar. Vamos imaginar um cotidiano sem memes e as queixas recorrentes de quem coloca a comida na mesa através das Artes Gráficas. Ou seja: tratemos de maneira sóbria essa profissão notória por ser ameaçada por "sobrinhos", por ter "prazos apertados", "alterações infindáveis", "trabalho excessivo" e etc.
 
Quem levanta tais problemas deve entender muito bem a necessidade de se mostrar muito além que um especialista em softwares. Melhor se preocupar com a busca pela qualificação profissional em um aprimoramento constante. Sobretudo, elevar o potencial para assumir cada projeto sob a convicção da execução eficiente no trabalho. E para isso, encarar o percurso pedregoso dentre os sequentes obstáculos e cada problema a se solucionar, estando aberto às críticas e pontos de vistas diversos.
 
Nas décadas de minha profissão, busquei tanto o estudo e a prática, quanto o sorver da sabedoria dos colegas mais experientes. E nesse convívio, vi alguns no início, como eu, saírem vitoriosos... de vez em quando carreiras irregulares e, às vezes, algumas desistências.
 
O Design está longe de ser uma disciplina que se encerra em si, necessita-se do entendimento de muito outros saberes. A solidez vem com a adaptação, o acompanhamento de tendências, observação e a atualização de repertório. Precisamos aprender diariamente, buscar por referências diversas e estarmos sempre atentos. O que já é esclarecido a qualquer um inicialmente interessado pela profissão, seja em uma universidade ou em um bom estudo autodidata.
 
É necessário vivência e também alguma teoria. Convém se debruçar em alguns fundamentos, como princípios de Gestalt, as bases da teoria das cores, composição e tipografia. E nem sempre essas informações convergem, as fontes de pesquisa atuais (internet) são conflituosas e podem confundir. Os aprendizados passam a fazer sentido quando há as consultas em bons livros aliadas à prática - o Design é uma ciência imprecisa, mas ao mesmo tempo, altamente exata.
 
Já topei com muita gente cujo desejo maior é/era ser Designer. Jovens motivados por visões sonhadoras e carregadas de fascínio pela carreira. Nunca estranhei, pois me orgulho de cada dia que acordo cedo, banho os olhos diante do espelho e me preparo para encarar a labuta. É inegável o poder das imagens, das formas e das ideias. Julgo bastante compreensível o brilho no olhar de um neófito transbordando entusiasmo pela possibilidade de trabalhar sendo criativo. Também me sinto dessa forma (às vezes)... mas o encanto tem suas turbulências.

Arte de  Santiago M López - @samlo.es Em um post passado, sentenciei algo o qual nomeei como "linhas sobrepostas acidentais". Po...

Arte de Santiago M López - @samlo.es
Em um post passado, sentenciei algo o qual nomeei como "linhas sobrepostas acidentais". Por indiferença sobre se tratar de um assunto bastante discutido, fui surpreendido com a informação de que tal deslize tem nome e sobrenome: Tangenciamento de Linhas. Vindo a saber, em seguida, do problema representar uma dor de cabeça frequente aos desenhistas com maiores consciências de seus trabalhos. Não é para menos: caso não seja contornado, o Tangeciamento de Linhas comprometerá o resultado como um todo, atraindo toda a atenção a ele. É certo de muitos artistas experientes o cometem e não se importam. E eu me pergunto: como podem?
 
Questiono se haveria alternativas ou meios de se evitar esse assombro. Se sim - suponho -, está na possibilidade de se ter algum controle na fase do esboço. Porque depois de finalizado, não há como retroceder. Exceto se houver a disposição para recomeçar o desenho através de uma mesa de luz. Válido, afinal, caso se tenha investido e acreditado na peça visceralmente, não há problema nesse esforço. O retrabalho pode ser mal recebido, então compreendamos o caso de mais uma folha amassada e atirada na lixeira, antecedendo uma nova tentativa em outra em branco. Com o desenho digital, já é bem mais fácil.

Arte de Terry Moore - @terrymooreart

Cheguei à conclusão de estar muito desconfiado quando passo os olhos em qualquer Arte pictórica. Suponho até ser a procura por esses acidentes a primeira ação de meu cérebro e olhos. Já se tornou automático e instintivo. Não quero parecer um sujeito atraído por colocar defeitos nos trabalhos dos outros. Não é bem ao "defeito" a fonte de atenção, mas uma decepção de pensar como o detalhe comprometeu algo merecedor de elogios. De como estaria perfeito por muito pouco...
 
Não sou crítico de Arte. Menos ainda tenho um conhecimento enciclopédico sobre Desenho. No entanto, carrego uma certa sensibilidade para esse assunto. Pratiquei e observei bastante. Torço pelos Desenhistas e por seus esforços. Pouco importa quem são ou de onde, se simpatizo ou não... eu quero ver êxito e boas escolhas. Sentimento também aplicado à minha própria produção. 

Arte de Moacir Torres - @moacirtorres.emt

Perfeição não existe, é verdade. Uma professora do ginásio - de língua portuguesa - jamais assinava a nota máxima aos alunos, alegando que o 10 pertencia a Deus. Mesmo gabaritando a prova. Talvez um jeito eficiente de proteger da frustração os que por uma questão apenas não se viram juntos à glória. Essa postura diante de sua classe era ao mesmo tempo rígida e complacente. Sob meu ponto de vista, uma atuação de muita coerência. Diferente dela, desejo aos artistas a avaliação maior. Ao passo que ela queria dos alunos os melhores resultados mas não admitir a perfeição - sendo em sua opinião reservada ao divino - acredito no sucesso a qualquer Artista com tal intenção.

Não me comparo a ela, uma mestre, habilidosa no lecionar. A didática está longe de ser uma de minhas habilidades e sou limitado em conhecimentos. Mas minha dúvida persiste e eu vivo me perguntando até que ponto ela teria razão... É tudo o que lembro quando me deparo diretamente com Tangenciamento de Linhas. Isso porque estou maculado por essa problemática. Não há retorno... observei demais, analisei além do que devia e o resultado é esse: tornei-me um intolerante.

Acho descabido furtar o tempo de uma pessoa. Não o peço se a ocasião dispensar. Clamar pela atenção e a presença de alguém? Não é de meus co...

Acho descabido furtar o tempo de uma pessoa. Não o peço se a ocasião dispensar. Clamar pela atenção e a presença de alguém? Não é de meus costumes. Com muita sinceridade, espero o mesmo dos que me cercam. Explico: zango-me facilmente quando algo ou alguém me impede de desenhar e/ou escrever. Em nenhum momento esses fazeres requerem pares ou espectadores. É uma passagem de tempo que se desfruta da mais absoluta solitude.
 
Revelo sempre que, aos sábados, após um café da tarde, dirijo-me à minha mesa ou meu display digital e me abrigo dentre papéis, lápis, tintas e softwares de edição de imagens. Os sábados são dias abençoados, principalmente os com chuva. Concentro-me debruçado nos desenhos durante horas, até me dar conta de que o dia terminou. Não há outros pensamentos senão os de executar a tarefa. Só me cabe a dedicação e o silêncio.
 
É parte de minha vida pacata. E deixo claro de nada ter contra as pessoas com estilos de vida diferentes e muito menos me considero melhor. Tenho bastante a aprender com quem exibe traquejo social e vejo com curiosidade os que gostam de estar constantemente cercados por amigos. Sempre conversando, sorrindo... contando piadas.
 
Porém, admito ser essa uma realidade bastante diversa à minha. As atividades às quais me entrego requerem uma presença similar à meditação. São momentos de distanciamento do cotidiano e de qualquer diálogo. Ocorre naturalmente a quem já insistiu o suficiente ao ponto de se deixar levar, tal em uma correnteza. É quando há maiores recompensas para si. Dando-se bem com a obra, o restante pode inexistir, tudo mais se torna irrelevante. 
 
Há uma variedade de motivações aos Artistas, indo da pura inquietação, à uma carreira profissional. Falando sobre mim - permitindo-me, já que o blog é meu -, faço por terapia. Dentre os aposentos do cotidiano, a Arte está no andar mais alto. É um lugar suntuoso do meu lar, ele é triangular e com a melhor vista. O significado disso em minha vida é o do prazer, é o do me sentir livre. É onde encontro realização.
 
Claro que a Arte também nos une. Sim, aproxima Artistas de Artistas e Artistas de apreciadores. O trabalho é solitário, mas quando se está disposto, pode-se estar em meio a uma "turma". Assim como acontece nos eventos onde costumo estar presente. É um convívio muito breve, com quem sei pouco e pouco saberei. Porém, é o bastante, pois são encontros sempre marcantes... são advindos de paixões em comum e do culto aos produtos culturais e do entretenimento.