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Considero-me um conhecedor muito superficial de HQs. Por mais que eu singre esses mares há bastante tempo e os tenha como uma de minhas pai...

Considero-me um conhecedor muito superficial de HQs. Por mais que eu singre esses mares há bastante tempo e os tenha como uma de minhas paixões, falta-me o mínimo de conhecimento que me permitiria movimentar com mais liberdade nesse meio. É como se eu houvesse acabado de chegar.

Tenho mudado isso aos poucos, desempenhando um interesse maior do que meus antigos ânimos permitiam. Portanto, se a conversa é HQs, tenho valorizado todo o tipo de material. Com esse pensamento, imergi nas divagações teóricas do livro Um Mundo em Quadrinhos de Wellington Srbek.

Esse pequeno volume editado pela Marca Fantasia teve sua publicação em 2005 e traz uma adaptação do primeiro capítulo da dissertação de Mestrado de Wellington na UFMG. O autor elaborou o seu texto com desenvoltura, em uma escrita que não cai demasiadamente na estilística acadêmica.

Ao abrirmos Um Mundo em Quadrinhos, somos lançados aos ancestrais das HQs e à defesa de suas origens. As evidências pontuadas por Wellington são visivelmente resultantes de estudos muito bem fundamentados. Seus pontos de vistas sobre as gêneses das HQs me causaram surpresa e ao mesmo tempo satisfação, uma vez que já estive nesse tópico em outros momentos e as argumentações não me convenciam - eu as considerava forçadas. Então, teorias sobre o antigo Egito, pinturas rupestres nas cavernas e as que colocam os norte-americanos como sendo os inventores das Histórias em Quadrinhos, podem ser descartadas sem receios.

Destaco os trechos sobre as transformações da indústria gráfica e seu comportamento ao lidar com as HQs, quando a reprodução em massa se volta a tudo o que existe de mais popular e lucrativo em mercados editoriais competitivos e capitalistas. O que está diretamente ligado ao encerramento do volume que lança argumentações sobre quando uma História em Quadrinhos pode ser considerada uma obra de arte, já que ela, por mais que carregue consigo as maiores potencialidades criativas e culturais, pertence a uma indústria - o que por si, poderia anular tal possibilidade. No entanto, se considerarmos o mesmo atributo na Música, Literatura e no Cinema, aí sim se multiplicariam os critérios de avaliação.

Wellington articula reflexões sobre a HQ como uma linguagem condutora de ideias muito mais complexa e poderosa do que se possa presumir. Signos, informações visuais, desenhos e textos, quando combinados, tornam-se uma leitura distinta. E é como forma de comunicação singular, que a HQ se desdobra em possibilidades cujas fronteiras são inexistentes, ou delimitadas apenas pelas habilidades técnicas de seu autor e do que pretende veicular com o seu trabalho. Mesmo consciente de que não terá controle definitivo sobre suas intenções, pois elas estarão sempre sob as interpretações do leitor, que as fará segundo de seu próprio repertório e visão de mundo.

No texto de Um Mundo em Quadrinhos há outras explanações que me convenceram - ainda mais - de como a Arte Sequencial é rica como objeto de estudo e pesquisa. Caso eu fosse trazer aqui cada um dos argumentos, me estenderia além do que pretendo - consultar a obra integral pode ser mais proveitoso.