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Percebi que meus textos se tornam muito "viajados" em alguns momentos. Para evitar que isso se repita muito e, também, para tornar...

Percebi que meus textos se tornam muito "viajados" em alguns momentos. Para evitar que isso se repita muito e, também, para tornar o blog mais objetivo, crio a coluna "Abstraço" com o fim de demarcar um espaço onde me permito abstrair e divagar um pouco mais livremente. Então, vamos ao primeiro número: Abstraço #001 - Amadurecimento da Arte.
 
Uma Arte madura não pode ser determinada como melhor ou pior. Ao evoluir, as direções a escolher são diversas, tendo em comum apenas a necessidade de persistência. O ideal pode dispensar o mais belo ou o mais virtuoso, sobrepondo tais atributos, essencialmente pela originalidade.

As resoluções mais satisfatórias ao Artista, a meu ver, ultrapassam a necessidade de uma estética voltada à perfeição, bastando estar em consonância com o dialeto imagético pretendido. Reside na autenticidade, por mais excêntrica que aparente, o romper com os fundamentos, sob o propósito de efetuar a Arte provida com reais peculiaridades identitárias - logicamente, resultantes de muito estudo e experiência em sua execução.

"A regularidade, a ordem, o desejo pela perfeição destroem a arte." - Pierre-Auguste Renoir.


Já em idade avançada, acometido por artrite crônica, abalado pela morte da esposa e com seu primogênito ferido em guerra, Renoir lança essa pérola com toda a sua sinceridade aos que discordam ou não. Impossível não considerarmos a visão acurada, opinada por um exímio pintor e de longa vivência, de personalidade e reputação quase lendária, cujas vida e obra ecoam à eternidade. Simpatizo com tal pensamento e o valorizo, até porque identificar-se com uma afirmação tão controversa é uma premissa de coragem. Ainda que nossas Artes (a minha e a de Renoir) difiram acentuadamente, é flagrante em meus registros Artísticos algumas impressões bem similares.

"Quando eu tinha 15 anos sabia desenhar como Rafael, mas precisei uma vida inteira para aprender a desenhar como as crianças“ - Pablo Picasso.
 

Seria de se esperar uma afirmação inquietante vinda do gênio Pablo Picasso, mas nessa, temos algo muito ousado. Na voz de um Artista de tal grandeza, a dúvida é encoberta pelo êxito de obras brilhantes. A frase revela não ter sido da noite para o dia a sua descoberta do que desejava para si: uma vida inteira se encarregou de o fazer entender o recado. O legado de Picasso não pode ser ignorado, seus feitos inovadores fazem parte de um vasto acervo histórico, tanto como objetos de contemplação em museus, como focos de estudos nos meios acadêmicos. Temos aqui, então, mais uma evidência sobre o amadurecer da arte: ela, às vezes, acontece na simplicidade.
 
Vem-me à lembrança a fábula do jovem obstinado, tomando uma difícil jornada no deserto egípcio em busca de um mapa onde há a localização de um tesouro escondido. Depois de um longo tempo e incontáveis provações, chegando ao destino, encontra o mapa e lê nele que a localização do tesouro seria sob o solo no local exato de onde partiu. Artista algum jamais se opôs ao aprofundar nos fundamentos, anatomia, perspectivas, técnicas, materiais e demais requisitos teóricos. São neles os alicerces para a consistência do fazer Artístico, pois como ilustra a fábula, houve uma caminhada ao longo de anos no deserto.

 
O primor pode ser o menos, o espontâneo. A admiração e reconhecimento são dispensáveis se o artista faz a sua arte convicto de seus objetivos. Não há lei, falamos sobre um território sem empecilhos.

 Outros números do Abstraço.