Homem Quieto

Páginas

A revista Heavy Metal estreou em 1977, na França e posteriormente surgiu o licenciamento para publicação nos EUA, chegando ao Brasil em 1995...

A revista Heavy Metal estreou em 1977, na França e posteriormente surgiu o licenciamento para publicação nos EUA, chegando ao Brasil em 1995. Estive com algumas edições nacionais em mãos, adquiridas nos sebos da cidade. Simon Bisley, Milo Manara, Moebius dentre outros grandes nomes fizeram parte da galeria da Heavy Metal. Era uma revista de alto nível. As temáticas da época se caso estivessem sendo veiculadas hoje, talvez gerariam boicotes e críticas por parte de pessoas sensíveis na internet. Compreensível, passaram-se décadas. Não acompanhei como se manteve a linha editorial após os anos 90... 
Algumas escolhas foram abandonadas da fase do esboço.

O nome "Heavy Metal" já diz um pouco de seu conteúdo. Fantasia, horror e sci-fi, dentre violência, comportamentos perigosos e erotismos. As capas traziam imagens fortes e impactantes. Neste post, tento colocar a minha personagem Vivi Morbi em uma situação semelhante àqueles temas... está feito, ao meu modo, satisfatoriamente. Ainda sobre a revista, ela foi derivativa do movimento musical do seu momento. A ousadia e a rebelião estavam em alta dentre os jovens. Transgredir era obter uma boa reputação entre as tribos urbanas e nas noites. O Heavy Metal trazia o poder da desobediência e no desafio à moral: uma forma de pôr abaixo qualquer agente repressor.

Já como gênero musical, há quem pense no Heavy Metal como um estilo capaz de pôr em jogo o bem-estar de pessoas com problemas psiquiátricos. Isso devido à sua sonoridade e as suas letras... tudo levado ao extremo, ao desequilíbrio. Para mim, o oposto. O Heavy Metal (e seus subgêneros) me faz bem. O Metal Extremo e sua estética me causam familiaridade, identificação e prazer. Escolho muito bem minhas audições e se eu sentisse qualquer problemática, pararia imediatamente. Só tenho muita empolgação e deleitosas apreciações.

Me dei muito bem com esse sketchbook. 

As drogas, como um todo, estão no lado de fora de minha vida. Tenho aversão, à exceção de meus remédios para a saúde mental. O carinho da família e os cuidados de meu médico provém meus melhores dias. Mesmo com a vida ligada ao Heavy Metal e ao Rock, nos quais as atitudes e lemas são ousados... Sou pura calmaria. Dispenso excessos, ficando apenas com a música.

Opto apenas por ser correto. Ser justo. Honesto. A tranquilidade da vida pacata tem importância preferencial à qualquer outro ímpeto. Encontro a aventura nas criações artísticas. Não quero agito, não quero muito falatório, nem badalação. O encontro comigo mesmo basta. Tenho o afeto familiar, dos amigos e do Tander, meu animal de estimação. A adoração à autoestima e à arte nutrem meu ser como uma força vital externa e interna. Sou confiante assim. Embora frágil, também tenho uma fortaleza dentro de mim.

Na finalização, muitos improvisos.
Para não fazer minha imagem como a de um "santo", revelo já ter sido fumante e ter usado muito álcool… hoje os vejo como hábitos questionáveis e incompatíveis comigo. Porém, tenho o café... Aos sábados à tarde, costumo tomar café ir até minha prancheta para sessões de desenho. Antes do desenho, sempre o café. Para mim, uma bebida sagrada e saborosa. Por tê-lo deste modo, não faço abuso do café. O seu efeito e sabor são para momentos especiais, para a fagulha da criatividade e o relaxamento... às vezes, para uma boa conversa.

  Todos os ritos e crenças à periferia das religiões dominantes, no ocidente, são considerados paganismo. Qualquer fé politeísta também é as...

 

Todos os ritos e crenças à periferia das religiões dominantes, no ocidente, são considerados paganismo. Qualquer fé politeísta também é assim tida. As tradições do Norte Europeu, anteriores à ascensão do cristianismo, cultivavam práticas comunitárias, adorações às divindades da natureza e aos atos heroicos inspirados em seus Deuses. Na contemporaneidade temos organizações de crenças nomeadas como "Neopagãs", resgatando os laços trazidos da antiguidade.
 
Esboço solto. Tenho usado o lápis e não lapiseiras.
O Paganismo enaltece a vida simples e as tradições e cultos ancestrais. Assim como nos povos originários brasileiros, e demais sul americanos, antes da chegada dos colonizadores contaminados pelo catecismo Apostólico Romano. No Antigo Egito, a primeira grande civilização de milênios antes do marco cristão, a cultura e a arte estavam interligadas à religiosidade politeísta - exemplo que se repete nos demais povos africanos. Similaridades possíveis de se encontrar nas tradições Xintoístas da Ásia, onde também se destaca o Budismo. 
 
Do Xintoísmo, distingue-se semelhanças à filosofia de Espinoza, na qual a espiritualidade interliga tudo como parte de um só ser: a Natureza. Visão que ilumina meus pensamentos místicos e convicções metafísicas. Encontro, na contemplação de um Universo miraculoso, a crença no panteão das mais belas leis regendo a realidade - poderes imensuráveis, nos quais me identifico e me diluo.
 
As folhas do novo sketchbook têm se mostrado ideais para pintura com aquarela.
Jamais tive proselitismos em minha formação de caráter, o que considero uma bênção. Os ritos segundo os evangelhos, seguidos aqui no Brasil, não fizeram parte das fases galgadas no meu progredir da vida. Sendo assim, permito-me ser e agir sob as glórias dos Deuses e na liberdade de meu próprio juízo, obtidos através do legado moral familiar, da cultura e das consultas às filosofias surgidas ao longo da história.
 
Com toda a inspiração pagã, ilustro este post. Aqui vemos Eliza Morbi, mãe de Vivi Morbi na pele da imortal (mas humana) Sibila. Acompanhamos a lindíssima Eliza/Sibilia na travessia da cratera do Vesúvio, levada por Caronte em seu barco. Essa passagem - como descrito por Virgílio - foi onde Enéas ofereceu sacrifícios às divindades infernais. Sibila padece de sua maldição de ser tão longeva em dias de vida, como na quantidade de grãos em um punhado de areia - que porém, não decorre para a juventude eterna, mas sim em um terrível envelhecimento.
Finalizado. Foi bom ter voltado com as cores.
Desenho Eliza a poupando de tal agonia, oferecendo-a apenas a beleza e o glamour de Sibila, juntamente às peculiaridades sombrias já conhecidas sobre a família Morbi. A Sibila mitológica tem, como ofício etéreo, descrever o destino de todos em folhas caídas de uma árvore. Tornando-se assim, a senhora do destino, da existência e dos nomes de nascimento da humanidade. Nossas histórias de vida são frases encantadas lançadas pelo Tempo, como um livro escrito ao acaso e à efemeridade.



Trago um motivo originado de uma comemoração do mês que atravessamos. Trata-se da mudança de estação do hemisfério norte das Américas. Uma t...

Trago um motivo originado de uma comemoração do mês que atravessamos. Trata-se da mudança de estação do hemisfério norte das Américas. Uma tradição celta apropriada posteriormente pela religião católica e convertida em tema festivo nos países Anglo. Dentre nós, brasileiros, reconhecemos o ensejo como "Dia das Bruxas", as quais não há ligação alguma dentre os festejos.
 
Para mim, o Halloween tem o seu valor. Um bom pretexto para fazer tudo o que já faz parte de meus hábitos do início ao encerrar do ano: assistir filmes de Terror e ouvir Metal Extremo, bem como fazer desenhos temáticos. O lado sombrio permanece, a despeito de quaisquer incentivos sazonais externos. Pertenço a esses costumes, tradicionalmente, desde muito jovem.

Cada vez menos detalhes no esboço.

Também não sou um morcego a todo instante... preciso usar minhas máscaras sociais para lidar com o mundo. Quando em convívio com os que povoam o meu cotidiano, desempenho a minha (falta de) habilidade social perfeitamente. E acredite: quanto mais me esforço em ser sociável, parece que estou fazendo ao contrário.

Sketchbook novo. Nova marca, melhor papel.

Sou um personagem de Halloween na alma, porém sem fantasias para afastar os maus espíritos... mas sim, a rigor, para repelir pessoas. Dada essa oportunidade do ano, permito-me transparecer, neste texto e ilustração, as minhas peculiaridades nada elogiáveis. Essas, talvez só aceitas neste momento e pelos simpatizantes da referida data celebrada.
 
Comentei dia destes, com minha mãe que, ainda com minha personalidade e predileções, as produções artísticas de meu portfólio aparentam alegria e graciosidades. As tentativas de demonstrar um lado sinistro são sempre falhas. Esse traço paradoxal até que me agrada. Muitas vezes a expressão bem-humorada e um timbre menos sombrio pode tornar agradável cada Halloween que passa.

Resultado final. Mexi digitalmente no segundo plano (estava muito intenso).

Talvez, a razão de minha arte seja mesmo a de divertir, alegrar ou (quem sabe) trazer beleza para perto dos olhos e aquecer os corações. Porque sinto bem-estar ao desenhar. Essa atividade faz meus dias correrem com mais entusiasmo. Quando posso parar tudo e pegar um lápis e papel, minha mente se torna limpa. As preocupações se esvaem... qualquer sentimento ruim dá lugar à tranquilidade. Pensando bem, os aspectos alegres fazem bastante sentido. Em última análise, perfeitamente compreensível.

O motivo para este post não poderia ser mais pessoal. Vemos aqui a Vivi em uma prática magística, executando um ritual onde há a alteração d...

O motivo para este post não poderia ser mais pessoal. Vemos aqui a Vivi em uma prática magística, executando um ritual onde há a alteração do mundo ao seu redor e a mudança da realidade através de manipulações místicas de elementos do inconsciente. Estaria a própria Vivi me evocando para a desenhar dentro dessa cena?
 
Meus primeiros contatos com a magia foram pelas mãos de meu saudoso tio Pê, presenteando-me com um exemplar de O Alquimista da autoria de Paulo Coelho. Com essa leitura, fui movido a buscar outro de seus best-sellers: o Diário de um Mago. Dessas duas obras, eu, um jovem de quatorze anos, absorvi os conceitos do que seria a magia com facilidade.

Lápis feito sem muita preocupação em detalhar.

Essa compreensão quase sempre era o assunto entre mim e um amigo da mesma idade, também interessado pelo misticismo. Nossas conversas eram longas e submersas na curiosidade sobre o oculto. Não o vi mais em uma dessas esquinas responsáveis por nos afastar de algumas pessoas. Mas após aquela época meus interesses tiveram guinadas e tomaram outras veredas. Por outro lado, a magia permanecia - ainda que oculta nos detalhes. 

A satisfação do sketchbook.

Voltei-me a ela outra vez em minha segunda internação em uma clínica psiquiátrica, lá nos anos 90. Na rotina da instituição havia a terapia ocupacional, entre o café da manhã e o almoço. Era quando eu me sentia melhor e mais relaxado. Dentre as atividades terapêuticas, eu tentava desenhar, porém alguns medicamentos me impediam por causa da impregnação. Por isso busquei a leitura. Dentre o acervo da clínica, descobri as HQs do Sandman e da coleção Vertigo. Novamente a magia se manifestava. E foi com intensidade.

Já em dois mil e dez, mais estável, embora com acompanhamento profissional e medicado, pude ir morar sozinho pela primeira vez. Diante da liberdade e por ter privacidade a meu favor, resolvi mergulhar na magia como eu sempre desejei. Enriqueci a imaginação com filmes, séries e livros sobre o tema e fui em busca de informações mais verídicas. Acessei as fontes possíveis: podcasts, blogs e livros - todas elas me trouxeram as maravilhas de um caminho rico em imaginação e descobertas.

Resultado final.

Os exercícios se mostraram difíceis, mas obtive resultados muito expressivos. Ainda assim, não fui um praticante persistente, as experiências duraram poucos anos. Isso porque percebi que as práticas, os estágios e as provações como magista me traziam desequilíbrios psíquicos, bem como prejuízos à saúde mental - esta que eu tanto luto para preservar. Não fui forte para perseverar e evoluir. Escolhi então, manter apenas um olhar místico sobre meu cotidiano e contemplar a magia presente no dia a dia. Ser artista já é algo mágico.