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[Esse post é parte de uma série sobre o (meu) processo de fazer quadrinhos. Nele vou me ater, em linhas gerais, a como inicio uma pág...


[Esse post é parte de uma série sobre o (meu) processo de fazer quadrinhos. Nele vou me ater, em linhas gerais, a como inicio uma página e à parte técnica de tratamento de imagem.]

Em primeiro lugar, fazer quadrinhos pode ser um plano na vida profissional, ou também, uma iniciativa artística livre de pretensões maiores - a escolha pessoal depende do artista. Mas o que não se pode negar é a força criativa exigida por esse suporte e o quanto de tempo é necessário para praticá-lo. Caso exista uma certa inclinação a esse rigoroso processo de criação e o desejo por contar histórias, o autor irá valer-se do poder dos Quadrinhos e seus recursos, unindo imagens e textos para expressar ideias e conduzir narrativas.
Página teste de tempos. Está no meu DeviantART.

Constituída por muitas etapas, a elaboração de uma HQ precisa sempre contar com a intuição e a bagagem de conhecimentos do artista, como a Escrita, o Desenho e a Ilustração. Quem se coloca a quadrinizar deve, antes de tudo, conhecer a linguagem. Ler Quadrinhos - e estar atendo aos detalhes de sua leitura - é imprescindível, assim como a busca por referências diversas e o consumo constante e variado dessa mídia. Também há livros muito bons sobre como fazer Quadrinhos, recorrer a eles é um ótimo jeito de se aperfeiçoar.
 
Antes de tudo, o roteiro deve estar pronto para ser quadrinizado, porque o trabalho intenso de se fazer uma página pode ser colocado a perder se houver alterações muito gritantes. É possível colar cenas alteradas sobre a página ou refazer toda ela, mas o melhor é seguir desenhando com decisão. Quando estou certo de que o texto está feito em sua versão definitiva, parto para o Rafe. Trata-se de um desenho bem rápido de como será a página. Coloco ali os enquadramentos, posicionamentos de câmera, os personagens, suas ações e mais ou menos a posição das falas. O Rafe aponta a direção a ser tomada e é bem importante.
 
Estando tudo de acordo, vou ao o lápis da página. Claro que já tenho as referências visuais coletadas, os Model Sheets de meus personagens e o que eu precisar. Busco as referências visuais quase sempre no Pinterest - um site magnífico ao artista visual.

  
Rafe e arte finalizada. Parte da minha webcomic Ato Falho.

Quando termino o lápis, é hora de limpar o desenho. Nesse ponto faço uma observação importante: se o artista pensa em monetizar originais, precisará limpar o desenho transferindo o esboço para outra folha, do contrário, o retoque digital dá conta. A arte final (aplicar o nanquim) vai da preferência do artista. Eu faço com pinceis e caneta Uni Pin 0.8. Gosto muito de aplicar nanquim, acho relaxante.

Página guia no Photoshop (clichê para padronizar). Pesquisas no Pinterest.
 
Escanear não é mistério. Caso se use folhas A3, em um scanner A4, o ideal é digitalizar a página em três partes e montar no software de edição de imagens. Depois converter para o modo de cor "Tons de Cinza", elevar o contraste ao nível máximo e o brilho a 66%. Tenho um clichê de página salvo entre minhas organizações com tamanho apropriado, margens e paleta de cores. Quando o utilizo, salvo o arquivo com outro nome e fico trabalhando nele. Os passos seguintes são as cores e o letreiramento no InDesign, o que serão assuntos para o futuro.

Bem, isso é mais ou menos um trecho de como edito os Quadrinhos que faço, parte de minha rotina como autor de fins de semanas. Outros posts com esse mote virão, e espero que agradem ao leitor. Até lá!

A arte final utilizando pinceis sempre me encantou. Parecia-me uma acrobacia no que se referia ao desenho. Eu me perguntava como um sujeito...

A arte final utilizando pinceis sempre me encantou. Parecia-me uma acrobacia no que se referia ao desenho. Eu me perguntava como um sujeito atingia a maestria de aplicar o nanquim usando de um instrumento como tão místico, indomável. Ainda nos desenhos mais simplistas a sensação se repetia: o pincel transmitia beleza em suas linhas flexíveis, irregulares - claramente segredos profundos dos artistas mais graduados no ofício.

Somente eles poderiam desempenhar tal façanha? Pelo menos em minhas primeiras tentativas a impressão se manteve. Mas insistir sempre muda as coisas, a repetição ensina, ela afasta as folhagens da selva de receios diante de nós para enxergamos o caminho. Quando vi, já estava finalizando páginas de quadrinhos inteiras e ilustrações de maneira muito satisfatória usando o pincel. Não que eu já esteja pronto, vejo-me ainda como um aprendiz, contudo, acredito que posso passar alguma experiência a frente, o pouco do que sei sobre a ferramenta.
Algumas opções de produtos para começar a trabalhar.
No início, a sensação de manejar um pincel a é de incerteza e a insegurança é predominante. Não há atrito perceptível entre suas cerdas e o papel, conduzi-lo parece ser abrir mão da precisão. Mas se o artista for paciente, compreenderá os seus funcionamentos - conseguirá domar cada linha. Acontece que, em primeiro lugar, é necessário tirar um pouco do peso da mão, o punho ficará, em parte, suspenso - portanto é bom ser delicado. É importante não encharcar demasiadamente as cerdas ao colher nanquim no pote, somente alguns milímetros a partir da ponta é o suficiente.

Exercícios importantes para se adquirir destreza com o pincel.
Fazer alguns exercícios antes de começar pode ajudar bastante. Esses exercícios também devem ser praticados mesmo quando não se vai desenhar, eles treinam a nossa precisão. Quando começo, tenho sempre um papel ao lado esquerdo de minha bancada para retirar os excessos de tinta das cerdas durante todo o trabalho. Também uso um guardanapo de papel sob a palma da mão e o dedo mindinho, a fim de não engordurar a folha. E é necessário calma. Quando estiver decidido, inicie o traçado experimentando as variações - das linhas mais minúsculas às largas - prestando atenção em quando estão melhor colocadas. Parta sempre da esquerda para a direita e de cima para baixo, evitando que a mão borre a tinta mais recente.

"Mechanical Bride" - Desenho que fiz utilizando o pincel para finalizar.

Não tem jeito, o pincel só será seu parceiro após muitas investidas. E depois que você conseguir, não vai querer se separar dele. Faço apenas uma ressalva: mesmo já tendo experimentando bastante o pincel, continuo usando canetas nanquim para fazer detalhes muito pequenos - e recomendo o mesmo ao artista principiante no instrumento. Para não estragar desenhos à toa, a minha sugestão é a de pegar artes em PB à livre escolha da internet, clarear bastante no photoshop e imprimir para fazer alguns treinos.

Se interessar a utilização do pincel nas artes finais, é fácil: o mercado de produtos é variado e acessíveis, faz-se necessário apenas escolhê-los segundo nossas necessidades. Já falei aqui sobre o pincel Condor 00, que utilizei em quase toda a HQ Noite Escura e da Pocket Brush da Pentel que também é excelente. Falta ainda resenhar sobre o ColorBrush Pen da Pentel, a BrushPen da Uni Pin e o da Sakura...farei no futuro (estou experimentando).

Desejo boa sorte e que você trace bons desenhos e quadrinhos com o pincel!