Páginas

Costumo manter hábitos em meu cotidiano, agindo dentro de rotinas para executar quase tudo. Ao surgir algo novo, adapto-me a isto e o coloco...

27/07/2022 - Zona de Conforto

 

Costumo manter hábitos em meu cotidiano, agindo dentro de rotinas para executar quase tudo. Ao surgir algo novo, adapto-me a isto e o coloco em uma ordem a qual eu possa repetir e refazer de forma semelhante. Esse negócio de buscar desafios e “pensar fora da caixa” não me atrai, minha inclinação é a de ter o controle até onde é possível. Será que todo artista é mesmo um inconformado? Um rebelde tentando mudar o mundo? Existem esses e existe eu, vestido em meu chambre, calçando pantufas e com uma xícara de café na mão: pronto para o fim de semana preferivelmente sem surpresas.

Mas nem por isso estou no “piloto automático”. Sou muito observador, um contemplador de todos os milagres desse mundo, um andarilho das percepções e um explorador de experiências. Esse contraste é estranhado por muita gente, pois, por quase unanimidade popular, o ser humano precisa "fazer e acontecer" em meio a milhões de estímulos intensos para ser ultra criativo e proativo. Meu amigo, Evaristo Ramos, postou dia desses em seu blog um texto no qual diz estar com “preguiça” ao finalizar a sua série “Paralelos” (uma das webcomics mais fantásticas que já li) após uma jornada de seis anos de trabalho.

É perceptível que a “preguiça”, descrita por Evaristo, não é a do senso comum, aquela “reprovável”, “corrigível”, “inadmissível”... ele fala da resistência que temos diante das mudanças em nossas vidas. Cada decisão difícil, cada bifurcação de escolhas e tudo a que somos submetidos ao longo da existência causa sofrimento e, às vezes, traumas. E é assim que ocorre o crescimento pessoal e o aprendizado. Quem se envolve com Artes passa por isso o tempo todo, é parte do aprimoramento e de ser melhor no que faz. Artista algum vive a apatia voluntariamente, ele precisa de sua dose de sofrimento diário em nome de seu trabalho e só deste modo galgar fronteiras.

A tão conhecida “zona de conforto” nada tem de confortável a quem não está inerte. O fazer da Arte traz alegrias perfulgentes e, por outro lado, profundas angústias pouco a pouco. A auto superação é constante ao(à) artista e enquanto o mundo dá mil voltas, ele/ela constrói o seu universo morosamente, reunindo cada pedaço de inspiração para a construção de sua(s) obra(as) - e raramente está satisfeito(a). Por isso repito: a “zona de conforto” aparenta ser uma falha para quem vê de fora, ou uma espécie de falta de ânimo misturada à pouca iniciativa… mas isso apenas a quem desconhece totalmente do movimento perpétuo da criação.