maio 2025 - Homem Quieto

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Arte de  Santiago M López - @samlo.es Em um post passado, sentenciei algo o qual nomeei como "linhas sobrepostas acidentais". Po...

Arte de Santiago M López - @samlo.es
Em um post passado, sentenciei algo o qual nomeei como "linhas sobrepostas acidentais". Por indiferença sobre se tratar de um assunto bastante discutido, fui surpreendido com a informação de que tal deslize tem nome e sobrenome: Tangenciamento de Linhas. Vindo a saber, em seguida, do problema representar uma dor de cabeça frequente aos desenhistas com maiores consciências de seus trabalhos. Não é para menos: caso não seja contornado, o Tangeciamento de Linhas comprometerá o resultado como um todo, atraindo toda a atenção a ele. É certo de muitos artistas experientes o cometem e não se importam. E eu me pergunto: como podem?
 
Questiono se haveria alternativas ou meios de se evitar esse assombro. Se sim - suponho -, está na possibilidade de se ter algum controle na fase do esboço. Porque depois de finalizado, não há como retroceder. Exceto se houver a disposição para recomeçar o desenho através de uma mesa de luz. Válido, afinal, caso se tenha investido e acreditado na peça visceralmente, não há problema nesse esforço. O retrabalho pode ser mal recebido, então compreendamos o caso de mais uma folha amassada e atirada na lixeira, antecedendo uma nova tentativa em outra em branco. Com o desenho digital, já é bem mais fácil.

Arte de Terry Moore - @terrymooreart

Cheguei à conclusão de estar muito desconfiado quando passo os olhos em qualquer Arte pictórica. Suponho até ser a procura por esses acidentes a primeira ação de meu cérebro e olhos. Já se tornou automático e instintivo. Não quero parecer um sujeito atraído por colocar defeitos nos trabalhos dos outros. Não é bem ao "defeito" a fonte de atenção, mas uma decepção de pensar como o detalhe comprometeu algo merecedor de elogios. De como estaria perfeito por muito pouco...
 
Não sou crítico de Arte. Menos ainda tenho um conhecimento enciclopédico sobre Desenho. No entanto, carrego uma certa sensibilidade para esse assunto. Pratiquei e observei bastante. Torço pelos Desenhistas e por seus esforços. Pouco importa quem são ou de onde, se simpatizo ou não... eu quero ver êxito e boas escolhas. Sentimento também aplicado à minha própria produção. 

Arte de Moacir Torres - @moacirtorres.emt

Perfeição não existe, é verdade. Uma professora do ginásio - de língua portuguesa - jamais assinava a nota máxima aos alunos, alegando que o 10 pertencia a Deus. Mesmo gabaritando a prova. Talvez um jeito eficiente de proteger da frustração os que por uma questão apenas não se viram juntos à glória. Essa postura diante de sua classe era ao mesmo tempo rígida e complacente. Sob meu ponto de vista, uma atuação de muita coerência. Diferente dela, desejo aos artistas a avaliação maior. Ao passo que ela queria dos alunos os melhores resultados mas não admitir a perfeição - sendo em sua opinião reservada ao divino - acredito no sucesso a qualquer Artista com tal intenção.

Não me comparo a ela, uma mestre, habilidosa no lecionar. A didática está longe de ser uma de minhas habilidades e sou limitado em conhecimentos. Mas minha dúvida persiste e eu vivo me perguntando até que ponto ela teria razão... É tudo o que lembro quando me deparo diretamente com Tangenciamento de Linhas. Isso porque estou maculado por essa problemática. Não há retorno... observei demais, analisei além do que devia e o resultado é esse: tornei-me um intolerante.

Acho descabido furtar o tempo de uma pessoa. Não o peço se a ocasião dispensar. Clamar pela atenção e a presença de alguém? Não é de meus co...

Acho descabido furtar o tempo de uma pessoa. Não o peço se a ocasião dispensar. Clamar pela atenção e a presença de alguém? Não é de meus costumes. Com muita sinceridade, espero o mesmo dos que me cercam. Explico: zango-me facilmente quando algo ou alguém me impede de desenhar e/ou escrever. Em nenhum momento esses fazeres requerem pares ou espectadores. É uma passagem de tempo que se desfruta da mais absoluta solitude.
 
Revelo sempre que, aos sábados, após um café da tarde, dirijo-me à minha mesa ou meu display digital e me abrigo dentre papéis, lápis, tintas e softwares de edição de imagens. Os sábados são dias abençoados, principalmente os com chuva. Concentro-me debruçado nos desenhos durante horas, até me dar conta de que o dia terminou. Não há outros pensamentos senão os de executar a tarefa. Só me cabe a dedicação e o silêncio.
 
É parte de minha vida pacata. E deixo claro de nada ter contra as pessoas com estilos de vida diferentes e muito menos me considero melhor. Tenho bastante a aprender com quem exibe traquejo social e vejo com curiosidade os que gostam de estar constantemente cercados por amigos. Sempre conversando, sorrindo... contando piadas.
 
Porém, admito ser essa uma realidade bastante diversa à minha. As atividades às quais me entrego requerem uma presença similar à meditação. São momentos de distanciamento do cotidiano e de qualquer diálogo. Ocorre naturalmente a quem já insistiu o suficiente ao ponto de se deixar levar, tal em uma correnteza. É quando há maiores recompensas para si. Dando-se bem com a obra, o restante pode inexistir, tudo mais se torna irrelevante. 
 
Há uma variedade de motivações aos Artistas, indo da pura inquietação, à uma carreira profissional. Falando sobre mim - permitindo-me, já que o blog é meu -, faço por terapia. Dentre os aposentos do cotidiano, a Arte está no andar mais alto. É um lugar suntuoso do meu lar, ele é triangular e com a melhor vista. O significado disso em minha vida é o do prazer, é o do me sentir livre. É onde encontro realização.
 
Claro que a Arte também nos une. Sim, aproxima Artistas de Artistas e Artistas de apreciadores. O trabalho é solitário, mas quando se está disposto, pode-se estar em meio a uma "turma". Assim como acontece nos eventos onde costumo estar presente. É um convívio muito breve, com quem sei pouco e pouco saberei. Porém, é o bastante, pois são encontros sempre marcantes... são advindos de paixões em comum e do culto aos produtos culturais e do entretenimento.