julho 2025 - Homem Quieto

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Seguiremos com esse novo formato de post, no qual faço comentários sobre os processos e falo de meus pensamentos ao longo da execução do tra...

Seguiremos com esse novo formato de post, no qual faço comentários sobre os processos e falo de meus pensamentos ao longo da execução do trabalho. Estou seguindo mais ou menos o método de escrita cunhado por May Sinclair, chamado "Fluxo de Consciência", o qual Doroty Richardson preferia se referir como "Monólogos Interiores". Minha memória precisa de auxílio, sendo assim, mantenho um bloco de anotações ao meu alcance durante meus momentos diante da prancheta.
 
A exploração criativa, dessa vez, vem em simbolismos muito particulares. Não busquei outras fontes senão o meu próprio subconsciente. Foi um desenvolvimento semelhante ao de uma brincadeira de criança. Pablo Picasso dissera que "Toda criança é um artista, o problema é como assim continuar depois de crescer". Agindo segundo essa ideia, apenas acessei as áreas ocultas do Jardim do Éden das minhas percepções e delas extraí as mais puras e inocentes imagens.
Esboço preliminar.

Quando Ferreira Gullar disse: "A Arte existe porque a vida não basta" demonstra um argumento incontestável, pois a ausência da Arte seria desesperadora. Afirmação possível de se estender às comunicações digitais. Sempre enxerguei algo de inventivo nos comportamentos online das pessoas. Algo em falta atualmente. Os nicknames foram abandonados, juntamente aos personagens assumidas pelos internautas de outras épocas. Ou seja, a fantasia tem se esvaído, substituída por debates e mais debates, uma opinião após a outra e, consequentemente menos imaginação.
 
De minha parte, o caminho lúdico da internet se mantém. O que produzo é tudo o que me preocupo em compartilhar. Agora, (como nesse texto) forneço ainda mais informações sobre cada desenho que eu fizer, indo além de apenas usar hashtags. Deste modo, descrevo agora um pouco sobre ilustração tratada nesse post. A ideia se formou de modo improvável: alguns vídeos curiosos no YouTube que assisti. Improvável porque tratavam de estudiosos operando experimentos entomológicos nada convencionais: cultivando "amizades" com insetos e aracnídeos venenosos. Impressiona como animais habitualmente hostis têm compreensão de quando seres diferentes deles são amistosos e oferecem cooperação. Então me ocorreu a minha personagem, Vivi Morbi, interagindo com uma borboleta cujas asas são lâminas de barbear.

Mais uma folha do caderno.

A flor e a borboleta tentando aproximação, ambas exibem aspectos delicados, mas também inspiram cautela, seja por serem cortantes, pelas pétalas pretas ou pelo caule espinhoso. O que a borboleta procura é o néctar na flor, simbolizado pela própria Vivi. A lingerie sugere aspectos atrativos, vulnerabilidade e libido, poder e beleza, dos quais a borboleta letal quer se saciar. Vivi é que permite quem pode ou não tocar a rosa sombria e fértil. Para completar a sensualidade do desenho, em segundo plano está a lua cheia. Essa fase lunar é comum na contemplação romântica, poética e no despertar erótico humano através de influências gravitacionais.

Resultado final.
Esse desenho foi o resultado de mais um sábado à tarde, quando após um café, vou para minha mesa de desenho. Tenho preferido o desenho tradicional. É que o digital está me cansado mentalmente. Não sei se o motivo é a troca das lentes de meus olhos, ou se esse suporte realmente tem esse efeito. Ainda assim, gosto de desenhar digitalmente, intercalando entre o papel e o display. O importante é fazer e ter uma boa relação com a Arte.

Trago, nesse post, a minha versão de um motivo abordado por muitos artistas dos movimentos Renascentista e do Romantismo. Pinturas nas quais...

Trago, nesse post, a minha versão de um motivo abordado por muitos artistas dos movimentos Renascentista e do Romantismo. Pinturas nas quais vemos uma bela jovem nos braços da figura de um esqueleto humano, representação arquetípica da Morte. Recebendo o mesmo título: "A Morte e a Donzela", tais obras exibem exatamente o que descrevem.
  
As maiores dificuldades estiveram nos detalhes. Ainda estou me acostumando ao meu novo par de óculos, sendo necessário me afastar e aproximar do papel seguidas vezes para revisar proporções e espaços. As lentes estão certas, vejo com nitidez, mas, às vezes, ainda há distorções relacionadas aos tamanhos dos elementos. O desconforto já foi mais intenso, entretanto está atenuando em direção da adaptação definitiva aos costumes dos olhos. 

Lápis do desenho.

Claramente, essa peça se mostra erótica e funesta ao mesmo tempo (Eros e Tanatos de Freud), temas relacionados pelos mistérios da existência e da inexistência. Os pensamentos me colocaram em um "Memento Mori" durante os cuidados em torno da finalização. Assim, caí em saudades, memórias de tempos do frescor da juventude, além de uma profunda e introspectiva reflexão sobre a finitude.
 
Aos vinte e quatro anos, vivia grande ansiedade por um dia publicar um quadrinho e o expor em eventos. Vontade realizada após os quarenta. Mas consegui. Mesmo tardando, tornei possível meu sonho maior, ficando quites com aquela versão passada de mim. Meus conceitos holísticos em torno da Arte contemplam tudo isso: as realizações, os resultados e o processo. A Arte mantém a saúde mental, acompanhada do auto aprimoramento... sobretudo minha relação comigo mesmo e a adoração à autoestima.

Sketchook companheiro dos Sábados à tarde.
Mas, muitas pessoas intensamente ligadas à Arte se encontram ou estiveram em mal-estar e agonias existenciais. Li, nessa semana em uma revista, sobre a escritora Virginia Woolf ter se jogado em um rio com dezenas de pedras nos bolsos, em um ato derradeiro. A Arte estava presente, mas a dose desse remédio fora insuficiente. O drama era pesado demais e as dores muito insuportáveis. Todos vivemos nossas agruras e, para alguns, elas são maiores do que podem sentir... Ainda assim, devemos lembrar sobre a beleza da vida, dos prazeres que dela advêm. Pois bem, esses são os temas desse desenho em última análise...
Resultado Final.
Mas, alegremo-nos com as delícias de viver com a Arte - e para deixar o post mais leve, vamos falar de algo menos sério. Como damos importância a coisas sem real valor, não é? Houve um dia em que fiquei emocionado por ter recebido oitenta e poucos likes em um post no instagram. E o que significa isso, afinal? Nada senão que oitenta pessoas apertaram um borrão de luz em uma tela de celular. É de dar risada, concorda?