dezembro 2025 - Homem Quieto

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Fiquei sabendo da existência de William Blake através do livro "O Dragão Vermelho" de William Thomas Harris. O enredo dá segmento ...


Fiquei sabendo da existência de William Blake através do livro "O Dragão Vermelho" de William Thomas Harris. O enredo dá segmento à história de "O Silêncio dos Inocentes", obra mais conhecida pela adaptação cinematográfica. Eu aos 15 anos. Embora tão jovem, recém saído da puberdade, isso não me impediu de apreciar profundamente a leitura. Foram muitos picos de euforia e entusiasmo percorrendo aquelas páginas.
 
Quem leu O Dragão Vermelho sabe o papel de Blake dentro da trama. A sua "participação" é um dos elementos principais. E também, quem sabe em linhas gerais do tratado em O Silêncio dos Inocentes, será capaz de pressupor quais as circunstâncias. A curiosidade por conhecer Blake, como poeta e artista visual, perdurou por décadas. Era muito difícil encontrar publicações dele por aí. Quando havia, era inviável a um jovem desempregado obter.

O esboço digital foi executado com brush de pencil.

Em 2005 pude (cheio de alegria) comprar online, "Canções da Inocência e Canções da Experiência" - edição comentada pela Disal Editora. Um presente auto congratulado para o natal daquele ano. Encontrei no volume o singelo e o sutil. Muito diferente de minhas expectativas como leitor. O impacto entre minhas referência sobre a obra, e suas menções na cultura pop, teve uma reação contrária ao esperado.

Artefinalizando digitalmente. Foram algumas horas.


Porém, após reler algumas vezes, percebi gradualmente impressões vigorosas. Junto aos comentários da edição, encontrei-me com Blake de verdade. Entendi as suas jogadas misteriosas com as palavras. Cada mecanismo para conduzir a leitura. Principalmente porque o livro mantém os escritos originais em inglês, amplificando a experiência poderosamente. Tanto, que hoje resolvi ilustrar a segunda estrofe do poema "Noite", em Canções da Inocência. Segue a transcrição:
 
Night

Farewell, green fields and happy groves,
Where flocks have took delight.
Where lambs have nibbled silent moves
The feet of angels bright;
Unseen they pour blessing
And joy without ceasing,
On each bud and blossom,
And each sleeping bosom.

Resultado final. Cores e sombras.

Acontece uma autoanálise nesse trecho. Tenho percepções visuais. E coloquei no papel (dessa vez no suporte digital) as imagens segundo o experienciado. Não sei se haveria aprovação do autor, mas é o jeito de me expressar. Seria uma ambição verdadeiramente pretensiosa alcançar as visões de Blake como ele realmente tinha em sua rica imaginação. Mesmo assim, arrisco-me. Por gosto, por liberdade e prazer puro.
 
Quero finalizar com um pensamento anotado aqui num canto da mesa. O ser humano costuma julgar, trazer críticas mordazes aos demais. Eu e você fazemos isso, ainda repreendendo tais pensamentos. O homem precisa afirmar o seu lugar e poder, precisa de uma posição na vida através da qual tenha segurança, mesmo errando. Muitos recorrem à palavra "hipocrisia" à prática referida. Isso também é um julgamento. O homem é contraditório. E não estou defendendo nada nem ninguém, sou muito problemático com relações sociais. Ser contraditório, é humano...