Fiquei sabendo da existência de William Blake através do livro "O Dragão Vermelho" de William Thomas Harris. O enredo dá segmento à história de "O Silêncio dos Inocentes", obra mais conhecida pela adaptação cinematográfica. Eu aos 15 anos. Embora tão jovem, recém saído da puberdade, isso não me impediu de apreciar profundamente a leitura. Foram muitos picos de euforia e entusiasmo percorrendo aquelas páginas.
Quem leu O Dragão Vermelho sabe o papel de Blake dentro da trama. A sua "participação" é um dos elementos principais. E também, quem sabe em linhas gerais do tratado em O Silêncio dos Inocentes, será capaz de pressupor quais as circunstâncias. A curiosidade por conhecer Blake, como poeta e artista visual, perdurou por décadas. Era muito difícil encontrar publicações dele por aí. Quando havia, era inviável a um jovem desempregado obter.
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| O esboço digital foi executado com brush de pencil. |
Em 2005 pude (cheio de alegria) comprar online, "Canções da Inocência e Canções da Experiência" - edição comentada pela Disal Editora. Um presente auto congratulado para o natal daquele ano. Encontrei no volume o singelo e o sutil. Muito diferente de minhas expectativas como leitor. O impacto entre minhas referência sobre a obra, e suas menções na cultura pop, teve uma reação contrária ao esperado.
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| Artefinalizando digitalmente. Foram algumas horas. |
Porém, após reler algumas vezes, percebi gradualmente impressões vigorosas. Junto aos comentários da edição, encontrei-me com Blake de verdade. Entendi as suas jogadas misteriosas com as palavras. Cada mecanismo para conduzir a leitura. Principalmente porque o livro mantém os escritos originais em inglês, amplificando a experiência poderosamente. Tanto, que hoje resolvi ilustrar a segunda estrofe do poema "Noite", em Canções da Inocência. Segue a transcrição:
Night
Farewell, green fields and happy groves,
Where flocks have took delight.
Where lambs have nibbled silent moves
The feet of angels bright;
Unseen they pour blessing
And joy without ceasing,
On each bud and blossom,
And each sleeping bosom.
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| Resultado final. Cores e sombras. |
Acontece uma autoanálise nesse trecho. Tenho percepções visuais. E coloquei no papel (dessa vez no suporte digital) as imagens segundo o experienciado. Não sei se haveria aprovação do autor, mas é o jeito de me expressar. Seria uma ambição verdadeiramente pretensiosa alcançar as visões de Blake como ele realmente tinha em sua rica imaginação. Mesmo assim, arrisco-me. Por gosto, por liberdade e prazer puro.
Quero finalizar com um pensamento anotado aqui num canto da mesa. O ser humano costuma julgar, trazer críticas mordazes aos demais. Eu e você fazemos isso, ainda repreendendo tais pensamentos. O homem precisa afirmar o seu lugar e poder, precisa de uma posição na vida através da qual tenha segurança, mesmo errando. Muitos recorrem à palavra "hipocrisia" à prática referida. Isso também é um julgamento. O homem é contraditório. E não estou defendendo nada nem ninguém, sou muito problemático com relações sociais. Ser contraditório, é humano...






