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A preocupação sobrepujante em acertar é um temor capaz de nos levar à procura de artifícios diversos em nossos fazeres criativos. Mas a cria...

13/11/2023 - Borracha Para Que Te Quero

 

A preocupação sobrepujante em acertar é um temor capaz de nos levar à procura de artifícios diversos em nossos fazeres criativos. Mas a criatividade, por sua vez, necessita de liberdade e não de travas mentais - seus horizontes só se ampliam com algumas ousadias. A imperfeição pode ser uma professora dedicada, quando o conforto solitário dos processos Artísticos nos leva a resultados inesperados. A disciplina aliada à displicência fortalecem os músculos criativos, dando mais vigor aos acasos. Assim funciona o talento: vontade de ir além juntamente aos estudos e à diligência.
 
Quando abrimos a percepção nessa direção, encontramos a aceitação dos defeitos e o abandono dos vícios. Os medos na Arte impedem os nossos progressos. Eles começam com os referidos “artifícios”, com os quais convivemos sob à aflição pelo êxito. Com o tempo, incorporar as imperfeições leva à expressividade e, derrubando uma barreira de cada vez, o Artista vai de encontro à grande chance de execuções surpreendentes. Obviamente, sem se eximir de técnica e conhecimento.
 
O Artista com maior prática perceberá a valia de galgar as próprias limitações. Nesse estágio, ocorre uma fração de iluminação sobre sabermos muito pouco mas, ainda assim, alcançamos um enorme progresso. Minha experiência diz que a prática Artística é, inicialmente, uma habilidade análoga ao pedalar de uma bicicleta, na qual o progresso principal acontece até a etapa de simplesmente subir no mecanismo e manter equilíbrio. A Arte livre é o que vem após isso, quando rodamos sem as mãos nos guidões, saltando uma rampa, empinamos, atravessamos uma avenida movimentada.
 
Devemos soltar o traço, entregar o comando da aventura à perda do controle. Se não para expor a outros olhos, pelo menos para exercitar para si. Progredir em silêncio em sua oficina particular, na calada da noite, é quando não há borracha para apagar, mas há pinceladas esdrúxulas e arriscadas. Aceitemos o erro, para assim, ampliar a visão e pôr uma lupa nas imprecisões e as adotar, transformando-as em evolução.