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  No shopping, bar, no parque. Uma mesa qualquer e o sujeito se sente bem para desenhar. Rabisca enquanto bebe ou troca ideias com os presen...

 

No shopping, bar, no parque. Uma mesa qualquer e o sujeito se sente bem para desenhar. Rabisca enquanto bebe ou troca ideias com os presentes, entre mil e uma conversas e estímulos vindos de todos os lados. Uma modalidade para quem está muito acostumado. Invejo, mas para mim não serve. De jeito algum. Para desenhar, preciso de meu espaço, silêncio, de um tempo exclusivamente reservado e, sobretudo, de estar só. Pode até ser durante uma Call, mas então falamos de uma exceção. Meus hábitos para o Desenho são de ares quase religiosos, momentos bastante importantes de meu cotidiano, quando há uma total imersão e distanciamento do restante do mundo.

Meu devido respeito aos caricaturistas, grafiteiros, e outros profissionais que performam suas Artes ao vivo. Essas execuções diante de um público requerem um certo desembaraço e muita desinibição. Parece-me um talento desenvolvido ao longo de toda a formação como Artista. Uma bela forma de se comunicar, sentindo segurança e impondo o respeito sobre a sua plateia. É muito comum, sujeitos tímidos aliados a essa prática e se saindo bem. O que não é de se espantar, já que temos exemplos assim até mesmo nas Artes Cênicas.

Do mesmo modo, os professores de Artes acrescentam ao e seu ofício – além do conhecimento sobre Artes – a oratória e a didática, seja em uma sala de aula, ateliê, ou diante de uma câmera. Depois do colegial, passei a ter uma certa admiração pelos que lecionam. Desde então, percebi que uma relação próxima e de mutuo interesse entre aluno e professor, pode tornar o aprendizado ainda mais gratificante. São admiráveis os esforços de professores para transmitir o Saber. Meus mestres de Artes do currículo escolar eram envolvidos com entusiasmo. Queriam os melhores resultados em suas classes e se importam com os progressos dos educandos, mantendo sempre um real compromisso.

O profissional ou hobbysta, seja qual a área das Artes, tem o seu “modus operantis” e só o alterará se tiver vontade ou as circunstâncias exigirem. Estar disposto a mudanças trará novas experiências, com toda certeza. Se favoráveis, ou não, isso fica a cargo das escolhas e das casualidades. De minha parte, estou bem assim… permanecer em meu canto, produzindo minhas coisas, traz-me prazer e paz... Do que não pretendo me desfazer. Prefiro ter isso como um hábito eterno de horas vagas.

Se nos debruçarmos sobre a História da Arte e determos o olhar em alguns de seus momentos, não raramente nos chocaremos - sem surpresa algum...

Se nos debruçarmos sobre a História da Arte e determos o olhar em alguns de seus momentos, não raramente nos chocaremos - sem surpresa alguma - com conceitos causadores de estranhamento se comparados aos entendimentos mais atuais. Aristóteles observava a Arte com menosprezo, definindo-a como apenas mera “cópia da realidade”. Na idade média, artistas recebiam a avalia de seus trabalhos como produtos de operações de mão de obra “braçal”. As vertentes de labores intelectuais, daquela localização histórica, eram tidas como superiores, pondo à parte as “artes menores” (Desenho, Pintura, Escultura, etc).

Esses recortes históricos não persistem em sua cronologia. O quadro já se inverteu acentuadamente ao longo dos séculos, tanto retrocedendo no tempo, quanto para a atualidade. O reconhecimento em torno de grandes criadores e valorização de suas produções são indistinguíveis da trajetória humana. As expressões Artísticas manifestaram amplas variedades de estilos e técnicas nos muitos nichos e origens culturais conhecidos - resultando em uma celebração às múltiplas expressões visuais observadas nos quatro cantos do globo.

Uma Arte “menor”, na contemporaneidade, é possível de ser assim nominada se através dos critérios de um avaliador sustentando um limitado repertório. Ao meu ver, teoria e investigação devem predominar sobre o “gostar” ou “não gostar”, do encontrar “sentido” ou não. Ainda hoje, considera-se válido tais quesitos de avaliação leiga sobre exposições. Ao que me permito não me opor inteiramente, pois seria adequado também considerar o ponto de vista do observador despropositadamente irrefletido culturalmente. A interpretação de um espectador pode ser aferida pelos seus paradigmas estéticos e ideais de beleza, bem como suas experiências de vida, tanto definida por onde esteve, quanto pelo o que consumiu até o momento do encontro com a amostra a ser julgada. 

Para mim, nem sempre o que está em jogo é a técnica do que está exposto, pois em seu lugar, a atenção pode se voltar à intenção e ao conceito. A reflexão sobrepõe os métodos de execução, o detalhamento, recursos, etc. Então que, como dito antes, o estudo do tema ou uma curadoria poderiam nos esclarecer, evitando uma conclusão antecipada. Principalmente, quando estamos diante de uma produção que requer de nós uma afiada percepção subjetiva e demais exageros de matizes conceituais pressupostos pelo autor. Ainda falando de meus pensamentos, admito que costumo me dar melhor o que atinge tanto o espírito quanto o olhar. Às vezes, mais o olhar. Não por isso, estou do outro lado da discussão, pois me mantenho aberto às mais variadas hipóteses de inspiração e influências possíveis.