01/12/2024 - Embriaguez Artística - Homem Quieto
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Se o Artista unir técnica e conhecimento, estamos a poucos passos de uma boa execução. Caso já exista algum tempo de prática, então a reali...

01/12/2024 - Embriaguez Artística

 

Se o Artista unir técnica e conhecimento, estamos a poucos passos de uma boa execução. Caso já exista algum tempo de prática, então a realização será (quase) seguramente excelsa. Bastaria essas afirmações e encerraríamos o assunto por aqui. Mas não é apenas isso. Precisamos ir além de bons resultados, é necessário buscarmos o prazer da execução e nos deleitar com o processo.
 
Aprender, fazer, repetir, repetir novamente e atingir um objetivo... tudo isso é de grande valor e precisa ser observado. Quando estamos nos colocando em um projeto e fruímos em todos os detalhes e etapas até desmoronarmos de fadiga, bem sabemos o sabor dessa tragada. É um sentimento dividido e belo de se vivenciar. Só faz deste jeito quem tiver a verdadeira chama crepitando no peito e a alma completamente inebriada.
 
Porque é como o vinho, a poesia ou a virtude: um tipo de embriaguez. Rodeado por livros de referências, revistas e arquivos digitais mil, para mim, tudo se encaixa e está me gratificando diariamente a vida, ao passo que também a está consumindo e a encurtando. Meus olhos percorrem obras na caça por minúcias, avaliando as técnicas e o quanto de conhecimento foi utilizado. Pergunto-me: " quanto durou aquela estrada?". Nas navegações no YouTube assisto tudo sendo feito diante de minhas retinas... Vou ao encontro de artistas em várias partes do mundo, demonstrando suas habilidades através de audiovisuais em alta resolução.
 
Afundo em tudo até o impossível. O fascínio nunca se extingue, ao contrário, intensifica-se progressivamente. Há um constante envolvimento com novas obsessões artísticas e as recorrentes revisitações de quaisquer outras quase esquecidas. Está em meu âmago: abro páginas de quadrinhos escaneadas, ou de meu acervo físico e somente aprecio - como uma bebida ou uma joia preciosa.
 
Elaboro os meus roteiros e me volto ao manejo da tinta e do grafite. Avanço entre papéis e gadgats de desenho, manipulando pixels, gigabytes de arquivos editáveis em horas e horas que não vejo no relógio. Mesmo com minha mente e os olhos cansados e as costas precisando de alongamento, sempre há algo a ser feito. Enquanto observo todo o trabalho repousando em minha workstation - entre um intervalo e outro -, divago a respeito de tudo e reviso mentalmente o quanto dos meus dias dediquei àqueles fazeres, o quanto de mim foi aplicado. Estive nessa por anos... vidas passadas, talvez.
 
A minha Arte e as de meus contemporâneos precisam ser reviradas ao avesso, destrinchadas pelo público. Produzimos para isso: fazer todos se banharem, usarem e desusarem, dissecarem cada pedaço de nossas criações. O desejo maior de um quadrinista é apenas esse: o de excitar e saciar mentes ávidas por prazeres estéticos, visuais e narrativos. Precisamos -
reciprocamente - dos apreciadores.