Quando mais jovem, entusiasmado e querendo “aprender” Desenho, levei até um professor de Artes (de um atelier aqui perto) uma pastinha com meus rabiscos despretensiosos. A análise do homem foi esnobe e incisiva: “és um desenhista e não um artista”. Nem me matriculei no curso, saí de lá cabisbaixo, frustrado, desmotivado. E passei a pensar bastante sobre me tornar um “Artista” e não só um “desenhista”. Como se houvesse diferença, não é? Mas aquela semente de dúvida germinou e se enraizou em minha mente a ponto de me estagnar. E achei que jamais alcançaria nenhum de meus objetivos.
O início das coisas em tempos distantes. |
Quando lembro daquela conversa, vem-me à mente os trabalhos do professor nas paredes de seu estúdio - nada extraordinário, tudo beirando à mediocridade… E eu, considerando-o em uma posição mais elevada e de maior experiência, fui afetado violentamente pelo seu comentário.
Folheei HQs e mais HQs de meu acervo decidido a buscar o que havia de “Arte” e o que havia de apenas “desenho” nelas... Ocorreu-me primeiro que talvez as obras com o traço perfeccionista fossem a resposta. Anatomias perfeitas, poses, cenários, perspectivas, etc… Após isso, ao contemplar obras excelentes, mesmo sem todas essas virtudes, perguntei-me se seriam então os resultados mais displicentes realmente dignos de serem considerados obras de um “Artista”.
E foi assim que desde então me voltei às minhas próprias convicções com relação à Arte e ao Desenho: acredito na honestidade.
Sim, porque ser honesto com a sua Arte é bem mais importante do que realizar complexas balizas no traço e se igualar aos ídolos e grandes autores. O que fazemos com nosso trabalho é - sob o meu ponto de vista - o que importa, é para onde somos levados. O estudo, a prática, a busca por se aperfeiçoar são indispensáveis e, no final, entregar o melhor de si é mais importante do que atrair atenção e reconhecimentos incomensuráveis.
Do mesmo modo, não se deixar tomar pela preguiça também tem o seu valor. Fazer Arte de forma diligente, sejam quais os impedimentos a serem galgados, já demonstra uma força que só levará ao sucesso. Ainda que a um sucesso interior: o da certeza de que houve esforço e o do dever ter sido cumprido. Há muitos que ficam na promessa e não colocam a mão na massa, o que é comparável com os que até fazem, mas sem capricho, empenho e praticam a Arte esporadicamente.
Com minha opinião formada e a observação acurada, aprofundo-me em cada obra que me aproximo e vejo qual o seu peso e valor. E, por isso, só posso admitir que o professor de Artes fez a sua parte: me levou a refletir. Pensar e tirar conclusões a partir da análise - independente influências e usando de conhecimentos sedimentados - são exercícios individuais salutares e relevantes para se compartilhar.