2025 - Homem Quieto

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  A inspiração, dessa vez, foi o conto "O Modelo" da obra "Pequenos Pássaros" de Anaïs Nin. A história está dentre um co...

 A inspiração, dessa vez, foi o conto "O Modelo" da obra "Pequenos Pássaros" de Anaïs Nin. A história está dentre um compilado de contos eróticos. E adianto se tratar de um livro adulto, para maiores de dezoito anos... leia meus pareceres neste link. Literatura é um de meus interesses. Prova disso, foram as minhas participações em oficinas para aprender escrita criativa (promovidas pelo CESC). Esses eventos parecem ser criados para trazer desconforto. Realizados aos sábado e domingos, bem cedo, tinham pausa para almoço e continuavam até o final da tarde. Produzíamos redações e éramos avaliados rigorosamente. Em minha primeira experiência, dizia o escritor para todos: "Sejam cruéis uns com os outros" - para se ter uma ideia.

No esboço, o rosto do pintor está diferente. O processo me obrigou a fazer a alteração.
No início da segunda oficina na qual me inscrevi, a ministrante nos questionou sobre o que levaria qualquer um a se empenhar em uma escrita. Diante das respostas, as quais sugeriam "expressar sentimentos" e outros motivos similares, ela nos pôs em dúvidas sobre todas as nossas motivações como escritores. Apresentou-nos as técnicas narrativas mais usadas e desvinculou de nós divagações e devaneios presentes em nossa falta de experiência literária. Até mesmo por trás de uma prosa lírica, recorre-se a fundamentos presentes nas intenções de qualquer autor previamente bem informado.
A lineart foi a parte mais rápida.
O ato emocional não está inserido no momento do redigir. Isso desfiguraria a narração. O propósito se estabelece no que se pretende causar ao leitor. Se um texto provocativo não afrontou ninguém, falhou. Se um drama trouxe risos, idem. Se o objetivo de uma narrativa for o horror e assim não o fizer, fracassou. (Precisamos excluir da conversa os cinéfilos de Horror, pondo uma exceção ao público que tem picos de euforia e de risos diante deste gênero).
Pela primeira vez em muitos anos, usei cores.
A carga emotiva acontece no oposto de onde parte. Ofereço a analogia com a culinária. Ao dizermos que se colocou amor em um preparo, compreendemos um sabor satisfatório. Porém, tal afeto acontece ao degustarmos, não no cozinhar. A(o) chefe da cozinha, calculou, mediu e aplicou estratégias culinárias para o sentimento identificado como "amor" brotar do paladar de quem estiver sendo servido. Deste modo, escrever é método. Conduzir uma narrativa requer técnica e a utilização de "ingredientes" corretos.
A conclusão me agradou. Valeu à pena retirar a aquarela da gaveta.
O interesse pela literatura está em baixa, isso é fato. Há muito tempo as oficinas de escrita criativa não são mais anunciadas em minha cidade e, segundo as informações midiáticas, a leitura de livros não é mais tão frequente. Essa é a informação que tenho colhido no cotidiano. Mas a esperança não está perdida. No último evento de cultura geek onde estive, um garoto bem jovem (oito anos no máximo), acompanhado da mãe, aproximou-se de minha mesa para comprar minha HQ, Prisma Negro. Contou-me de suas aspirações para quando crescer: ser um poeta. Dentre tantos astronautas e médicos... um poeta. Testemunhei um acontecimento raro.

Testemunhei meu desenho eclodir de um ovo evolutivo e se revelar coberto por sua plumagem esparsa, completamente vulnerável e faminto - quan...



Testemunhei meu desenho eclodir de um ovo evolutivo e se revelar coberto por sua plumagem esparsa, completamente vulnerável e faminto - quando lhe ofereci o calor de meu acolhimento. Laborei nele zelosamente, esperando um dia o ver se tornar uma elegante e astuta ave negra - tão negra quanto o nanquim o qual hoje lhe fornece forma. Vendo-o agora, alçando seus voos diante de tantos olhares curiosos (e às vezes admiradores), sinto-me orgulhosamente recompensado por progredir e pela disposição à perseverança.
 
Como assim o descrevo, o trabalho alcançou valor, adquiriu importância e foi além: transformou-se em um produto possível de ser oferecido como um presente. Presentear e ser presenteado me causa desconforto. Explicar isso coerentemente é difícil. Para mim, esse tipo de envolvimento me faz sentir encabulado. Em contrapartida, vejo a minha Arte como o presente mais sincero que eu possa oferecer. Veja: tais sentimentos reforçam as minhas convicções de meus pensamentos se voltarem mais à criação e serem menos lógicos. 
Na fase do esboço é preciso mão leve.
Foi como resultado desses pensamentos divagantes, o surgimento de uma leitora imaginária à qual quero presentear. Ela é hipoteticamente fã de minha HQ Vivi Morbi e cujo perfil fictício se incluiria: gostar de gatos, tatuagens old school, teorias conspiratórias sobre alienígenas e ter como filme predileto "A Fantástica Fábrica de Chocolates". Para mim faz sentido, então... seguimos assim... a lógica está suspensa, por enquanto. Descrições adicionais são desnecessárias - a ilustração fala por si.
  
Em uma análise rápida, há evidências sobre como eu surpreenderia singelamente a minha "leitora". Entendendo cada parte da ilustração chegamos ao todo. Concebo, assim, uma imagem e suas alegorias. Executo cada detalhe utilizando de algo ao que me refiro como "Arte Gráfica"... a rigor, o ato de "grafar". A grafia sugere formas e conceitos, alimentando as percepções e os pensamentos.
Meu sketchbook segue recebendo nanquim semanalmente.

Ao vermos a pegada de um tênis em um chão de terra, imediatamente associamos ao calçado. Saberemos aproximadamente o número comparando aos nossos pés. Se a marca do fabricante estiver presente, poderemos supor a suas campanhas publicitárias e estimar até mesmo o valor. Embora nas palavras desse post, e nos traçados de minha ilustração, não falemos de uma linha de produção, a analogia acrescenta bastante sobre as minhas intenções. Neste fazer lúdico, cubro a folha em branco, fazendo uso do improviso, do intencionalmente espontâneo e intuitivo e em suas escolhas mais honestas.
 
Sou o ator subindo ao palco e acrescentando falas ao script (enquanto escrevo) e faço tal o jazzista com o instrumento musical em suas mãos (enquanto desenho). Tudo ao meu modo, valendo-me da intuição inclinada ao dionisíaco e calando temporariamente os hábitos apolíneos aos quais normalmente sigo. Convertendo meu "modus operantis" habitual, trago na Arte a permissão em me contradizer. Aqui deposito justamente a quebra de qualquer regra. Exato como minha leitora provavelmente apreciaria e daria um sorriso aprovador.

Desenho finalizado.

E a quebra de regras é bem-vinda, ela traz emoções de difícil explicação. Houve um evento, em que expus, onde um rapaz pegou uma das prints de minha mesa enquanto eu "não via" e apenas a colocou em uma bolsa e saiu sorrateiramente com a sua apropriação indébita. Inicialmente fiquei furioso, porém o sentimento foi substituído em poucos minutos - pensei melhor e me senti envaidecido. Oras, meu desenho é assim tão valioso ao ponto de alguém querer roubar? Foi o que me pareceu naquele momento.

Seguiremos com esse novo formato de post, no qual faço comentários sobre os processos e falo de meus pensamentos ao longo da execução do tra...

Seguiremos com esse novo formato de post, no qual faço comentários sobre os processos e falo de meus pensamentos ao longo da execução do trabalho. Estou seguindo mais ou menos o método de escrita cunhado por May Sinclair, chamado "Fluxo de Consciência", o qual Doroty Richardson preferia se referir como "Monólogos Interiores". Minha memória precisa de auxílio, sendo assim, mantenho um bloco de anotações ao meu alcance durante meus momentos diante da prancheta.
 
A exploração criativa, dessa vez, vem em simbolismos muito particulares. Não busquei outras fontes senão o meu próprio subconsciente. Foi um desenvolvimento semelhante ao de uma brincadeira de criança. Pablo Picasso dissera que "Toda criança é um artista, o problema é como assim continuar depois de crescer". Agindo segundo essa ideia, apenas acessei as áreas ocultas do Jardim do Éden das minhas percepções e delas extraí as mais puras e inocentes imagens.
Esboço preliminar.

Quando Ferreira Gullar disse: "A Arte existe porque a vida não basta" demonstra um argumento incontestável, pois a ausência da Arte seria desesperadora. Afirmação possível de se estender às comunicações digitais. Sempre enxerguei algo de inventivo nos comportamentos online das pessoas. Algo em falta atualmente. Os nicknames foram abandonados, juntamente aos personagens assumidas pelos internautas de outras épocas. Ou seja, a fantasia tem se esvaído, substituída por debates e mais debates, uma opinião após a outra e, consequentemente menos imaginação.
 
De minha parte, o caminho lúdico da internet se mantém. O que produzo é tudo o que me preocupo em compartilhar. Agora, (como nesse texto) forneço ainda mais informações sobre cada desenho que eu fizer, indo além de apenas usar hashtags. Deste modo, descrevo agora um pouco sobre ilustração tratada nesse post. A ideia se formou de modo improvável: alguns vídeos curiosos no YouTube que assisti. Improvável porque tratavam de estudiosos operando experimentos entomológicos nada convencionais: cultivando "amizades" com insetos e aracnídeos venenosos. Impressiona como animais habitualmente hostis têm compreensão de quando seres diferentes deles são amistosos e oferecem cooperação. Então me ocorreu a minha personagem, Vivi Morbi, interagindo com uma borboleta cujas asas são lâminas de barbear.

Mais uma folha do caderno.

A flor e a borboleta tentando aproximação, ambas exibem aspectos delicados, mas também inspiram cautela, seja por serem cortantes, pelas pétalas pretas ou pelo caule espinhoso. O que a borboleta procura é o néctar na flor, simbolizado pela própria Vivi. A lingerie sugere aspectos atrativos, vulnerabilidade e libido, poder e beleza, dos quais a borboleta letal quer se saciar. Vivi é que permite quem pode ou não tocar a rosa sombria e fértil. Para completar a sensualidade do desenho, em segundo plano está a lua cheia. Essa fase lunar é comum na contemplação romântica, poética e no despertar erótico humano através de influências gravitacionais.

Resultado final.
Esse desenho foi o resultado de mais um sábado à tarde, quando após um café, vou para minha mesa de desenho. Tenho preferido o desenho tradicional. É que o digital está me cansado mentalmente. Não sei se o motivo é a troca das lentes de meus olhos, ou se esse suporte realmente tem esse efeito. Ainda assim, gosto de desenhar digitalmente, intercalando entre o papel e o display. O importante é fazer e ter uma boa relação com a Arte.

Trago, nesse post, a minha versão de um motivo abordado por muitos artistas dos movimentos Renascentista e do Romantismo. Pinturas nas quais...

Trago, nesse post, a minha versão de um motivo abordado por muitos artistas dos movimentos Renascentista e do Romantismo. Pinturas nas quais vemos uma bela jovem nos braços da figura de um esqueleto humano, representação arquetípica da Morte. Recebendo o mesmo título: "A Morte e a Donzela", tais obras exibem exatamente o que descrevem.
  
As maiores dificuldades estiveram nos detalhes. Ainda estou me acostumando ao meu novo par de óculos, sendo necessário me afastar e aproximar do papel seguidas vezes para revisar proporções e espaços. As lentes estão certas, vejo com nitidez, mas, às vezes, ainda há distorções relacionadas aos tamanhos dos elementos. O desconforto já foi mais intenso, entretanto está atenuando em direção da adaptação definitiva aos costumes dos olhos. 

Lápis do desenho.

Claramente, essa peça se mostra erótica e funesta ao mesmo tempo (Eros e Tanatos de Freud), temas relacionados pelos mistérios da existência e da inexistência. Os pensamentos me colocaram em um "Memento Mori" durante os cuidados em torno da finalização. Assim, caí em saudades, memórias de tempos do frescor da juventude, além de uma profunda e introspectiva reflexão sobre a finitude.
 
Aos vinte e quatro anos, vivia grande ansiedade por um dia publicar um quadrinho e o expor em eventos. Vontade realizada após os quarenta. Mas consegui. Mesmo tardando, tornei possível meu sonho maior, ficando quites com aquela versão passada de mim. Meus conceitos holísticos em torno da Arte contemplam tudo isso: as realizações, os resultados e o processo. A Arte mantém a saúde mental, acompanhada do auto aprimoramento... sobretudo minha relação comigo mesmo e a adoração à autoestima.

Sketchook companheiro dos Sábados à tarde.
Mas, muitas pessoas intensamente ligadas à Arte se encontram ou estiveram em mal-estar e agonias existenciais. Li, nessa semana em uma revista, sobre a escritora Virginia Woolf ter se jogado em um rio com dezenas de pedras nos bolsos, em um ato derradeiro. A Arte estava presente, mas a dose desse remédio fora insuficiente. O drama era pesado demais e as dores muito insuportáveis. Todos vivemos nossas agruras e, para alguns, elas são maiores do que podem sentir... Ainda assim, devemos lembrar sobre a beleza da vida, dos prazeres que dela advêm. Pois bem, esses são os temas desse desenho em última análise...
Resultado Final.
Mas, alegremo-nos com as delícias de viver com a Arte - e para deixar o post mais leve, vamos falar de algo menos sério. Como damos importância a coisas sem real valor, não é? Houve um dia em que fiquei emocionado por ter recebido oitenta e poucos likes em um post no instagram. E o que significa isso, afinal? Nada senão que oitenta pessoas apertaram um borrão de luz em uma tela de celular. É de dar risada, concorda?

  Joinville emendou o feriado de Corpus Christi - na segunda metade do mês de junho - para sediar, nos pavilhões da Expoville, o grandioso S...

 

Joinville emendou o feriado de Corpus Christi - na segunda metade do mês de junho - para sediar, nos pavilhões da Expoville, o grandioso SuperXP. Com a satisfação de lá estar expondo, presenciei o esplendor em forma de festa e celebração cultural promovida pelo entretenimento. Centenas de jovens circularam entre grandes atrações, tendo consigo as mais variadas expressões de personalidade. Foi cativante encontrar um público evocando os seus desejos de liberdade e autenticidade exclusivamente possível a quem realmente se permite voar.

 
Cada espaço do SuperXP foi uma atração à parte. Os participantes trouxeram a alegria, a criatividade, juntamente à vivência de verdadeiros sonhos ilimitados. Foi sensacional passear por aqueles corredores sob o clima que causava o mais puro encanto. Com imensa gratidão por ser presenteado com tudo o que tornou favorável a minha participação em meio àqueles momentos célebres e memoráveis, considero-me, com isso, privilegiado em minha jornada artística. A mesa onde expus recebeu a atenção na medida esperada, compartilhada com os jovens e muito talentosos artistas do "Hall dos Artistas".
A sensação de segurança e de acolhimento por parte dos organizadores e de todos os demais foi inigualável. Tudo convergiu para uma das melhores experiências dentre todas as semelhantes onde estive. Não foram exploradas todas as possibilidades oferecidas pelo evento, pois só pude permanecer lá até sábado à tarde. Precisávamos, eu e meu irmão, voltar a Criciúma antes do momento que prometia mais visitantes: o domingo - tornando, assim, nossa despedida um pouco precoce.

Como tocamos na palavra "despedida", é o momento no qual digo adeus às passagens em eventos geeks e congêneres. Após nove anos de peregrinação entre feirinhas, grandes feiras, convenções e demais encontros, encerro tudo por aqui. Continuarei produzindo minhas coisas, desenhando e escrevendo quadrinhos, mas entro em aposentadoria das demais atividades. Foi um período realizador que deixo para trás. Não encaro essa decisão com tristeza ou sentimentos ruins, guardo sim, boas memórias para levar para sempre comigo.


E, concluo, afirmando que tudo isso foi por livre escolha, sem outros motivos senão minha própria vontade. Se alguém me perguntar "porquê"... não terei nada a dizer. Apenas acho melhor. E, como comentei com meu irmão, o SuperXP foi uma ocasião à altura desse término. Senti como um grande e caloroso abraço em uma passagem para uma outra fase e para horizontes diferentes. Fiquei com um sabor muito especial e uma impressão de que a hora de parar aconteceu de um modo extremamente gratificante.

  Prefiro deixar à parte as faces mais populares sobre o ofício de Design Gráfico. Todas as tiradas humorísticas já foram exploradas ao pont...

 

Prefiro deixar à parte as faces mais populares sobre o ofício de Design Gráfico. Todas as tiradas humorísticas já foram exploradas ao ponto de me cansar. Vamos imaginar um cotidiano sem memes e as queixas recorrentes de quem coloca a comida na mesa através das Artes Gráficas. Ou seja: tratemos de maneira sóbria essa profissão notória por ser ameaçada por "sobrinhos", por ter "prazos apertados", "alterações infindáveis", "trabalho excessivo" e etc.
 
Quem levanta tais problemas deve entender muito bem a necessidade de se mostrar muito além que um especialista em softwares. Melhor se preocupar com a busca pela qualificação profissional em um aprimoramento constante. Sobretudo, elevar o potencial para assumir cada projeto sob a convicção da execução eficiente no trabalho. E para isso, encarar o percurso pedregoso dentre os sequentes obstáculos e cada problema a se solucionar, estando aberto às críticas e pontos de vistas diversos.
 
Nas décadas de minha profissão, busquei tanto o estudo e a prática, quanto o sorver da sabedoria dos colegas mais experientes. E nesse convívio, vi alguns no início, como eu, saírem vitoriosos... de vez em quando carreiras irregulares e, às vezes, algumas desistências.
 
O Design está longe de ser uma disciplina que se encerra em si, necessita-se do entendimento de muito outros saberes. A solidez vem com a adaptação, o acompanhamento de tendências, observação e a atualização de repertório. Precisamos aprender diariamente, buscar por referências diversas e estarmos sempre atentos. O que já é esclarecido a qualquer um inicialmente interessado pela profissão, seja em uma universidade ou em um bom estudo autodidata.
 
É necessário vivência e também alguma teoria. Convém se debruçar em alguns fundamentos, como princípios de Gestalt, as bases da teoria das cores, composição e tipografia. E nem sempre essas informações convergem, as fontes de pesquisa atuais (internet) são conflituosas e podem confundir. Os aprendizados passam a fazer sentido quando há as consultas em bons livros aliadas à prática - o Design é uma ciência imprecisa, mas ao mesmo tempo, altamente exata.
 
Já topei com muita gente cujo desejo maior é/era ser Designer. Jovens motivados por visões sonhadoras e carregadas de fascínio pela carreira. Nunca estranhei, pois me orgulho de cada dia que acordo cedo, banho os olhos diante do espelho e me preparo para encarar a labuta. É inegável o poder das imagens, das formas e das ideias. Julgo bastante compreensível o brilho no olhar de um neófito transbordando entusiasmo pela possibilidade de trabalhar sendo criativo. Também me sinto dessa forma (às vezes)... mas o encanto tem suas turbulências.

Arte de  Santiago M López - @samlo.es Em um post passado, sentenciei algo o qual nomeei como "linhas sobrepostas acidentais". Po...

Arte de Santiago M López - @samlo.es
Em um post passado, sentenciei algo o qual nomeei como "linhas sobrepostas acidentais". Por indiferença sobre se tratar de um assunto bastante discutido, fui surpreendido com a informação de que tal deslize tem nome e sobrenome: Tangenciamento de Linhas. Vindo a saber, em seguida, do problema representar uma dor de cabeça frequente aos desenhistas com maiores consciências de seus trabalhos. Não é para menos: caso não seja contornado, o Tangeciamento de Linhas comprometerá o resultado como um todo, atraindo toda a atenção a ele. É certo de muitos artistas experientes o cometem e não se importam. E eu me pergunto: como podem?
 
Questiono se haveria alternativas ou meios de se evitar esse assombro. Se sim - suponho -, está na possibilidade de se ter algum controle na fase do esboço. Porque depois de finalizado, não há como retroceder. Exceto se houver a disposição para recomeçar o desenho através de uma mesa de luz. Válido, afinal, caso se tenha investido e acreditado na peça visceralmente, não há problema nesse esforço. O retrabalho pode ser mal recebido, então compreendamos o caso de mais uma folha amassada e atirada na lixeira, antecedendo uma nova tentativa em outra em branco. Com o desenho digital, já é bem mais fácil.

Arte de Terry Moore - @terrymooreart

Cheguei à conclusão de estar muito desconfiado quando passo os olhos em qualquer Arte pictórica. Suponho até ser a procura por esses acidentes a primeira ação de meu cérebro e olhos. Já se tornou automático e instintivo. Não quero parecer um sujeito atraído por colocar defeitos nos trabalhos dos outros. Não é bem ao "defeito" a fonte de atenção, mas uma decepção de pensar como o detalhe comprometeu algo merecedor de elogios. De como estaria perfeito por muito pouco...
 
Não sou crítico de Arte. Menos ainda tenho um conhecimento enciclopédico sobre Desenho. No entanto, carrego uma certa sensibilidade para esse assunto. Pratiquei e observei bastante. Torço pelos Desenhistas e por seus esforços. Pouco importa quem são ou de onde, se simpatizo ou não... eu quero ver êxito e boas escolhas. Sentimento também aplicado à minha própria produção. 

Arte de Moacir Torres - @moacirtorres.emt

Perfeição não existe, é verdade. Uma professora do ginásio - de língua portuguesa - jamais assinava a nota máxima aos alunos, alegando que o 10 pertencia a Deus. Mesmo gabaritando a prova. Talvez um jeito eficiente de proteger da frustração os que por uma questão apenas não se viram juntos à glória. Essa postura diante de sua classe era ao mesmo tempo rígida e complacente. Sob meu ponto de vista, uma atuação de muita coerência. Diferente dela, desejo aos artistas a avaliação maior. Ao passo que ela queria dos alunos os melhores resultados mas não admitir a perfeição - sendo em sua opinião reservada ao divino - acredito no sucesso a qualquer Artista com tal intenção.

Não me comparo a ela, uma mestre, habilidosa no lecionar. A didática está longe de ser uma de minhas habilidades e sou limitado em conhecimentos. Mas minha dúvida persiste e eu vivo me perguntando até que ponto ela teria razão... É tudo o que lembro quando me deparo diretamente com Tangenciamento de Linhas. Isso porque estou maculado por essa problemática. Não há retorno... observei demais, analisei além do que devia e o resultado é esse: tornei-me um intolerante.

Acho descabido furtar o tempo de uma pessoa. Não o peço se a ocasião dispensar. Clamar pela atenção e a presença de alguém? Não é de meus co...

Acho descabido furtar o tempo de uma pessoa. Não o peço se a ocasião dispensar. Clamar pela atenção e a presença de alguém? Não é de meus costumes. Com muita sinceridade, espero o mesmo dos que me cercam. Explico: zango-me facilmente quando algo ou alguém me impede de desenhar e/ou escrever. Em nenhum momento esses fazeres requerem pares ou espectadores. É uma passagem de tempo que se desfruta da mais absoluta solitude.
 
Revelo sempre que, aos sábados, após um café da tarde, dirijo-me à minha mesa ou meu display digital e me abrigo dentre papéis, lápis, tintas e softwares de edição de imagens. Os sábados são dias abençoados, principalmente os com chuva. Concentro-me debruçado nos desenhos durante horas, até me dar conta de que o dia terminou. Não há outros pensamentos senão os de executar a tarefa. Só me cabe a dedicação e o silêncio.
 
É parte de minha vida pacata. E deixo claro de nada ter contra as pessoas com estilos de vida diferentes e muito menos me considero melhor. Tenho bastante a aprender com quem exibe traquejo social e vejo com curiosidade os que gostam de estar constantemente cercados por amigos. Sempre conversando, sorrindo... contando piadas.
 
Porém, admito ser essa uma realidade bastante diversa à minha. As atividades às quais me entrego requerem uma presença similar à meditação. São momentos de distanciamento do cotidiano e de qualquer diálogo. Ocorre naturalmente a quem já insistiu o suficiente ao ponto de se deixar levar, tal em uma correnteza. É quando há maiores recompensas para si. Dando-se bem com a obra, o restante pode inexistir, tudo mais se torna irrelevante. 
 
Há uma variedade de motivações aos Artistas, indo da pura inquietação, à uma carreira profissional. Falando sobre mim - permitindo-me, já que o blog é meu -, faço por terapia. Dentre os aposentos do cotidiano, a Arte está no andar mais alto. É um lugar suntuoso do meu lar, ele é triangular e com a melhor vista. O significado disso em minha vida é o do prazer, é o do me sentir livre. É onde encontro realização.
 
Claro que a Arte também nos une. Sim, aproxima Artistas de Artistas e Artistas de apreciadores. O trabalho é solitário, mas quando se está disposto, pode-se estar em meio a uma "turma". Assim como acontece nos eventos onde costumo estar presente. É um convívio muito breve, com quem sei pouco e pouco saberei. Porém, é o bastante, pois são encontros sempre marcantes... são advindos de paixões em comum e do culto aos produtos culturais e do entretenimento.

Encontrar opções em atividades offline é uma recomendação repetida à exaustão por especialistas em bem-estar e saúde. Alguns até mesmo adver...



Encontrar opções em atividades offline é uma recomendação repetida à exaustão por especialistas em bem-estar e saúde. Alguns até mesmo advertindo sobre espantosas consequências destrutivas físico/intelectuais/cognitivas. Não acho que é para tanto (embora eu não tenha propriedade alguma para assim afirmar), acredito que as pessoas devam ter liberdade para usufruir de seus momentos vagos com atividades às quais encontram prazer.
 
Ainda crendo nas máquinas e telas como ótimas ferramentas de trabalho e excelentes meios de entretenimento, nos últimos dois anos, tenho me afastado delas progressivamente. À exceção do desenho digital, pesquisas e vídeos (YouTube)... distribuo meu tempo, fora do trabalho, de outros modos. Desenhar no método tradicional me traz mais prazer, aproveito melhor cada momento utilizando meus materiais artísticos e o sketchbook físico diante de mim.
 
Ler, vagarosamente, no papel também é melhor experimentado. Revistas, quadrinhos e livros impressos são fontes de grandes satisfações. O silêncio da leitura me traz deleite e alimenta a imaginação. Esse hábito é parte de meu cotidiano desde muito jovem e sigo com a mesma intensidade e frequência. Sou dono de uma concentração satisfatória, meus pensamentos se organizam e raramente me falta a paciência... estou sempre com algo para pensar a respeito.
 
Minha coleção de discos e meu aparelho de som fazem parte de outro hábito terapêutico. Satisfaço-me com o degustar de discos por completos, prestando atenção em faixa por faixa. Longe do celular e tendo nada diante dos olhos senão o teto ou um encarte, meus ouvidos captam cada onda sonora, cada acorde e instrumento. Dentre o silêncio da leitura, da abstração do desenhar no papel e da "barulheira" da boa música (os estilos que gosto), o cotidiano recompensa, oferecendo serenidade e autoconfiança.
 
Claro que no meio disso e daquilo, há os tempos de tela. Afinal, vivo o presente, vivo o mundo que me cerca, por mais caótico que muitos alardeiam tentando nos amedrontar. A vida virtual também é boa, não deveria ser tratada desse jeito. Vivi bastante, vi outras mídias serem atacadas e consideradas ameaças à juventude, o que mudou com o tempo. Do Rock às HQs, passando pela TV e os videogames... quando se olha para trás, vemos o quanto houve de engano.
 
Muitos fazem questão de vilanizar a tecnologia. Só que o vilão está em nós. Qualquer um com o mínimo de informação sabe que fazer três refeições diárias, alimentando-se de pizza de calabresa traz consigo riscos de problemas cardiovasculares e buracos nas finanças. Mas se o acesso a esse tipo de consumo for delimitado e intercalado com uma alimentação equilibrada, temos o divertimento garantido. Há, de fato, quem sofra com o vício, o que também pode representar a necessidade de alerta. Um diabético obcecado por doces precisa de supervisão e do autocontrole para se manter saudável.
 
O direito de se entreter e se expressar jamais deve ser reprimido e receber as culpas dos adoecimentos sociais. Há sempre algo a se apontar. Um monte de argumentos precipitados, cheios de preconceitos, associando o lúdico e os vícios menores como causadores dos males que sempre estiveram lado a lado com a humanidade. Respeitemos o tempo, os seus sintomas, comportamentos e como a cultura se molda e transforma. Para o bem e para o mal o fluxo é contínuo, do jeito como sempre foi e será.

  Antes mesmo da alfabetização, somos apresentados ao material mais elementar na jornada de um Artista: o lápis. Semelhante a uma bola, a es...

 

Antes mesmo da alfabetização, somos apresentados ao material mais elementar na jornada de um Artista: o lápis. Semelhante a uma bola, a estrutura e a interação com ele já nos diz ao que se destina. Traçamos e tracejamos, fazemos uma confusão de linhas, do mesmo jeito com que chutamos uma bola para qualquer lado. Se muitos se encantam com a bola, em um número bem menor há os seguidores do caminho do lápis - e estes são os dos nossos.
 
Nas possibilidades infindáveis do seu manejar, revelam-se mil e uma descobertas. É quando percebemos ser o lápis a extensão da mente e do coração. Imagens são transferidas para o papel e a imaginação se prolifera em cada parte em branco do mundo. Guardamos nossas folhas, orgulhosos, sob a avaliação generosa dos professores de Artes e de nossos pais e mães. Crescemos portando o lápis para onde vamos, guardando-o dentre nossos pertences. E ele representa o nosso refúgio na infância, na juventude e, quando a vida nos encaminha e permite, no viver adulto.
 
Ainda no colegial, apeguei-me muito à lapiseira (um lápis mecânico) e com ela rabiscava os cantos de livros didáticos e cadernos. Fui recriminado, severamente, por professores mais austeros com essa prática, não me causando qualquer espécie de arrependimento. Nós, do caminho do lápis, temos algo de transgressor. Os Desenhos ornam desde monumentos, paredes a móveis e utensílios domésticos... do mesmo modo que os profanam. Surge, dessa maneira, o valor da beleza ou o desafio à civilidade. Cada riscado acompanha a desatenção ao sagrado quadro negro e a ausência dos professores e autoridades similares.

O cotidiano é observado mais profundamente aos que persistem e resistem no Desenho. Quando se aprende o caminho e como o seguir, encontra-se a habilidade e, assim, as oportunidades de sermos livres. Somos propelidos por saber sempre mais e a admirar Artistas inspiradores. Logo, o caminho do lápis transcende, transforma-se no caminho das tintas, das telas, do grafite e assim por diante. Sobretudo, quem está nele, está por um tipo de afeto de difícil definição. Um sentimento aberto a interpretações e a incompreensões.
 
Embora induza ao interesse - às vezes admiração - por parte dos leigos, o desenhar transmite impressões oblíquas sobre nós. Dentre elogios e pareceres triviais, somos tratados de forma diferente, como se algo sagrado e pueril nos envolvesse. Aparentemente, estamos eternamente colorindo e contornando em busca da aprovação dos que nos cercam. Mas jamais recebemos indiferença ao revelar nosso (desculpe a palavra) dom a alguém que não saiba fazer um "boneco de palito". Vamos convir: não há qualquer erro nesses aspectos banais na vida de um Desenhista.
 
O valor de se usar o lápis está na expressão, no sabor de registrar o nosso imaginário e os nossos pensamentos. Povoamos dos livros infantis às páginas dos jornais, fazemos críticas, sátiras, homenagens. Pouco a pouco, e silentes, entregamos ao mundo muitos motivos para necessitar de Artistas empunhando o lápis. Quem subestima o Desenho ignora o poder nele contido e por isso se arrisca. A habilidade de dar formas às ideias age no subterrâneo e nos subtextos pictóricos, os quais combatem a tudo e a todos nas trincheiras opostas. O lápis também perfura e pode ferir - de forma subjetiva - incisivamente, até mais que a adaga.

  No mês do meu aniversário, um presente especial: a participação, capa e uma entrevista no fanzine mais longevo do Brasil de uma vez só. É ...

 No mês do meu aniversário, um presente especial: a participação, capa e uma entrevista no fanzine mais longevo do Brasil de uma vez só. É um momento significativo e importante o qual jamais imaginei ou planejei. E, também, um dos pontos mais altos de minha breve jornada artística, trazendo orgulho e uma renovada na autoestima. O convite do Denilson Reis (quem encabeça o Tchê Zine) aconteceu no final do ano passado, precedendo a edição de número 48, onde divido espaço com grandes nomes e uma galeria de conteúdos refinados.
 
"Brilhante Como Diamante" foi roteirizado pelo próprio Denilson Reis e desenhado no intervalo entre minhas produções autorais em andamento. Nessa HQ, em parceria com o Denilson, há uma história tocante sobre o insubstituível amor materno e o quanto de valor devemos prestar a ele. São cinco páginas trazendo a visão de um protagonista cujo único amparo, diante de sua vida socialmente deslocada, se dá através do amor provido pela mãe. Pessoa essa a qual o sentimento é perene, porém a existência é tristemente finita.

A capa dessa edição do Tchê Zine é sobre a mesma história que participei em seu miolo. Eu a fiz na noite da virada, quando preferi me recolher em casa em vez de ir a festas e confraternizações tradicionais da data. Na concepção, coloco a figura central da história, o personagem ainda menino, entre os dois momentos fatídicos de sua vida. No peito, na forma de um diamante, a zelosa figura da mãe eternizada em seus sentimentos. Foi bem legal pensar nesses elementos e como eles foram essenciais no roteiro e bem unidos na composição.
 
Depois veio a proposta da entrevista. Titubeei para aceitar. Como todos sabem, sou muito reservado. Mas no fim... a decisão final está nas páginas do Tchê Zine. Denilson foi gentil nas perguntas, fazendo-me responder de forma leve e tranquila. Cada questão deu a oportunidade de conversar sobre minhas produções com bastante espontaneidade. Foi importante ser sincero, abrindo-me de verdade, sem ocultar ou exagerar em nada.
 
Deste modo, já dei o ano por ganho de tão honrado que fiquei nessas participações. Como descrito lá atrás, foi tudo inesperado e surpreendente. E por isso, tendo aqui a edição em mãos, só me surgem dois sentimentos: o orgulho e a gratidão. Eu diria que é um mês de aniversário lisonjeiro, já que a ocasião vem acompanhada de mais um fruto de minhas tentativas e erros dessa vida paralela que escolhi dentro das Artes. Acho que, afinal, esse tipo de coisa acontece não por sorte... mas por estar preparado na oportunidade.
 
Se interessar em adquirir um exemplar do Tchê Zine (que pode ser na versão grátis virtual ou impressa por R$10,00), é só pedir com o Denilson pelo e-mail tchedenilson@gmail.com E, se viu meus lances por lá, me diga o que achou.

Estou do lado de fora da festa. A qual festa me refiro? Essa de ter qualquer pretensão de destaque nas mídias online. Decidi que não servire...

Estou do lado de fora da festa. A qual festa me refiro? Essa de ter qualquer pretensão de destaque nas mídias online. Decidi que não servirei de "espetáculo" a ninguém. Após parar, retroceder e observar a internet com outras lentes, descobri que envelheci para ela. E, nesta condição, sou apenas um homem que quer ficar quieto em seu canto. Desejo mais sorte aos artistas jovens em busca de engajamento, seguidores, ou tentam a tal "monetização". Mas me excluo completamente dessas ideias.
 
Minhas produções, por sua vez, não cessam e apontam avante. Talvez tenha ficado subentendido que eu abandonaria a internet de vez, não é? Mas... Não é bem assim. Preciso trazer algumas notícias a respeito do que há no lado de cá ao leitor deste blog. Temos novos passos para o horizonte e algumas etapas em progresso... Isso porque gosto de fazer as coisas por prazer puro e simples. Desenhar, ler e escrever me traz a vontade que preciso, no meu ritmo e no meu tempo.

Por isso, vou transitando por aí lentamente, com passos miúdos e a mente ainda mais tranquila. Não há um dia sequer que, ao sentar diante da prancheta, ou do teclado, eu não esteja com vontade de me pôr em atividade. Isso tudo me salva o dia. Entenda: meu traço desliza como se as corrediças houvessem recebido alguma graxa e tenho escrito do jeito que gosto. Sim, porque além de postar desenhos regularmente lá no Flickr e no Instagram, também publiquei a primeira coletânea de contos e uma história ilustrada, tal sempre pretendi.
 
Possivelmente, o leitor saiba pouco, ou nada sobre isso. Minhas tentativas iniciais com as letras são um caso de longa data, mas meio que oculto. Amiguei-me com a escrita desde 2011. Os flertes iniciaram em 2009, mas só agora venho trazer o caso ao público. Se você ainda não entrou no InkSpired, está convidado a me ler por lá. Tem uns textos antigos e outros, como dito, recentes e com os ares de espírito mais atuais. Essas aventuras literárias, indo para além daqui do blog, têm sido um prazer extra. A sensação de realização é grande.
 
Adianto que escrevo ficção, curtas em grande parte. Por enquanto, estou nisso, por causa das experimentações. Reuni alguns desses textos em Confissão e Outros Contos, onde há uma escrita ágil e sem muitos ornamentos, com narrativas simples, mas repletas de mecanismos contestadores. Você presenciará vislumbres de fantasias e de histórias intrigantes, no limiar da razão de qualquer mente sóbria. São cinco contos levando essa proposta em suas narrativas. Já em Uma Fábula Galática, temos um conto bem leve, curtinho e ilustrado, trazendo um sabor de infância à leitura.
 
Ficam aqui os convites para o leitor conhecer essas outras "facetas" fora das HQs e do já conhecido por aí. Agradeço de antemão, esperando que surja um ou outro comentário... ou, sei lá... pelo menos que alguém goste das produções. Afinal, não ambiciono muita coisa.

  Quando discente na faculdade de Artes Visuais, folheei com atenção alguns números da revista “Piauí” na sala de espera do Centro Acadêmico...

 Quando discente na faculdade de Artes Visuais, folheei com atenção alguns números da revista “Piauí” na sala de espera do Centro Acadêmico. A Piauí versava sobre assuntos diversificados e fatos do momento - dentre humor, notícias e colunistas. A linha editorial era bastante autêntica. O projeto gráfico também não deixava a desejar, o que era conveniente ao local onde ela se encontrava.

Mesmo não sendo (somente) sobre Artes, a Piauí chegava ao CA de Artes a cada novo número, todos os meses. Em páginas grandes, bom papel e belas ilustrações, veiculava longos textos conduzindo o leitor em uma verve informativa (e criativa) abordando pautas polêmicas e assuntos de sobra para divertir e inspirar ou passar o tempo.
 
Essa lembrança me faz pensar como não deveríamos ter deixado a cultura de tal mídia se tornar ultrapassada. O ato de transitar em páginas de revistas sempre traz experiências e descobertas valorosas. Assinar uma revista, ou trazer uma delas da banca para casa, é semelhante a se comprar um ticket para o cinema. A pipoca pode nos acompanhar em uma matinê, bem como o café e as revistas caem bem em um final de tarde de sábado.
 
Muitas publicações desse formato já passaram diante de meus olhos. Sempre tive uma relação estreita com elas, consumindo desde as periódicas de entretenimento às jornalísticas. Cada volume nos oferece peculiaridades, tanto nos aspectos de sua época quanto nas suas linhas editoriais. O consumo rápido e eventual de uma revista não lhes confere menor importância que a de qualquer outro produto literário. Elas nos oferecem novos pensamentos e reflexões.
 
Algo a se considerar sobre tal categoria de publicação, é o comprometimento com a credibilidade. Há um percurso longo e calculado até a veiculação e ele se baseia em veracidade e no impacto sobre o leitor. Diferente de um post digital, a revista não pode retroceder com o clique de um mouse. Portanto, existe a necessidade de que o conteúdo seja legítimo e que possa ser defendido pelos seus jornalistas e responsáveis.
 
No contexto das Artes, não ficamos alheios às publicações periódicas. Nelas, a Arte é vista sob perspectivas diversas e com seriedade. Podemos ler opiniões, pesquisas e argumentações consistentes articuladas por profissionais e especialistas respeitáveis. Prova disso, são as descobertas recentes (aqui no meio digital) que me trouxeram boas leituras e impressões visuais bem proveitosas. Vou compartilhar algumas.
 

DASartes

 
A DASartes tem um site e também a possibilidade de baixar em PDF. No site se concentram as notícias e, no PDF, textos relacionados às Artes Visuais. Há reflexões, resenhas sobre produções literárias, articulações e análises de obras.
 
Acesse a revista aqui.
 

 

Arte!BRASILEIROS

 
Com equipes profissionais e colaboradores convidados, engloba as Artes Visuais como um todo. Informes sobre eventos e fatos das Artes Visuais, lançamentos de livros e biografias, juntamente a análises sobre galerias e opiniões a respeito artes brasileiras.Também com versão PDF.
 
Acesse a revista aqui.
 

 

Revista Ilustrar


A Ilustrar Magazine trata exclusivamente sobre ilustrações. Temos nela entrevistas, artigos e galerias de imagens. É uma das mais bem diagramadas e com o projeto gráfico mais interessante. Gosto bastante da coluna internacional assinada pelo Brad Holland.

Acesse a revista aqui.


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Há um mundo de informação a nosso dispor. Os excessos podem nos deixar confusos. Por isso, considero importante uma pausa para fazer uma leitura sossegada, atenta, com imersão. As revistas proporcionam momentos relaxantes enquanto o conhecimento é absorvido com prazer e mais cadenciadamente. Vamos nos nutrir de conhecimento com mais qualidade.

  A respeito o quinto disco de Mötley Crüe, o clássico Dr Feelgood ( 28 de agosto de 1989, Little Mountain Sound - Electra), há três fatos o...

 A respeito o quinto disco de Mötley Crüe, o clássico Dr Feelgood (28 de agosto de 1989, Little Mountain Sound - Electra), há três fatos o envolvendo. Primeiramente, os músicos finalizaram uma reabilitação, gravando o sóbrios pela primeira vez em anos. Segundo, a figura de um suposto traficante de Sunset Strip (famosa rua das noitadas na Califórnia), E, para terminar, a produção de Bob Rock, trazendo um novo aspecto sonoro ao grupo.
 
Este último fato é o menos relevante, ainda que tenha sido um grande êxito na entrega da produção musical. Então, vamos nos deter na arte da capa - o nosso foco aqui no blog. Pelas mãos de
Don Brautigam (capista de Metallica - Master of Puppets) em parceria com Kevin Brady (tatuador de grandes celebridades do rock), juntamente às ideias de Nikki Sixx (baixista e líder do Mötley Crüe) temos, como resultado, um belo trabalho repleto de simbolismos.

Num primeiro contato, vemos uma adaga com asas de morcego, envolvida por uma serpente e um caveira no cabo - nenhuma novidade para bandas desse gênero. Seguindo uma estética, como já dito, bastante "Heavy Metal" a pintura apresenta uma boa elaboração. As pinceladas são precisas e, mesmo assim, sem pretensões com o realismo. Há uma quebra da simetria com a figura da serpente, quase ocupando toda a lâmina.

A imagem não é um acaso. Ela representa o bastão alado chamado Caduceu, símbolo da contabilidade e da Medicina. Ambos esses aspectos se relacionam com o personagem "Dr Feelgood". Como "Doutor", o traficante trabalha medicando os clientes e contando o dinheiro com a venda de suas consultas. Ao contrário do Caduceu clássico, o do Mötley Crüe não tem duas serpentes simbolizando o infinito, em vez disso, há apenas uma delas voltada para baixo, figurando unicamente a sua peçonha.
 
N
o guarda–mão, as letras "Rx" unidas. Essa abreviação do latim "recipere"  é - ou já foi muito - usada (mais nos EUA que no Brasil) por médicos em suas prescrições de medicamentos. Além de ser um indicativo para a as recomendações medicinais, também representa uma prece para que o tratamento seja efetivo. O "Rx" tem origem na mitologia egípcia, que nos conta sobre o deus Horus ter um olho arrancado pelo seu tio Seth, e depois sendo curado pela deusa Troth. O Olho de Horus cicatrizado estima "recuperação, a saúde e a proteção”.

O logotipo, onde se lê o nome do grupo, foi repaginado, sendo ele guarnecido por caveiras estilizadas. O desenho das letras são secreções viscosas escorrendo. As trenas das vogais "o" e "u", além de também serem caveiras, são claramente um par de piercings íntimos. Muito de acordo com as temáticas vistas nos aspectos líricos do grupo. O título do álbum também apresenta a sigla "Rx" na grafia, reforçando a simbologia proposta pelo trabalho.
 
Uma arte de capa refinada para um disco estupendo. Quem já ouviu Dr Feelgood sabe muito bem a experiência. A capa representa uma época, um marco no Heavy Metal/Hard Rock dentre muitos vistos em sua história. Foi o resultado de um recomeço, tanto pela nova postura dos integrantes diante de suas vidas, quanto pela condução tão harmoniosa com a sua obra.

As tradicionais equipes criativas, das agências de publicidade, estão entregando a vez a profissionais liberais (solos ou em pequenos grupos...

As tradicionais equipes criativas, das agências de publicidade, estão entregando a vez a profissionais liberais (solos ou em pequenos grupos). Eles dominam, contemplam e até vão além das referidas prestadoras de serviços.
 
Estamos presenciando a era mais “visual” dentre todas na história. Há tempos, a aparição nas telas e monitores em torno do mundo deixou de ter a indiferença dos líderes corporativos. Variados setores empresariais estão preocupados com a presença nas mídias mais acessadas. Deste modo, recorrem amplamente às Artes Gráficas, em busca de sua proposta mais imprescindível: a de entregar visibilidade e um lugar de destaque no mercado.
 
As disciplinas de propaganda (do design ao copywriting) receberam um impacto irreversível logo após virada do milênio. A distribuição regular da banda larga nos polos distante do planeta foi vital. Assim, a valorização multimídia, bem como as novas linguagens tecnologicamente disseminadas, fizeram com que a vanguarda da comunicação visual mudasse radicalmente os seus conceitos.
 
Não é de hoje que as Artes Gráficas se caracterizam por beber sempre da sua própria história, usando constantemente a reciclagem, ou a ruptura com tendências anteriores. Direções retomadas ao longo da primeira metade dos anos 10, junto ao desvio da atenção às velhas mídias e o avultar dos entretenimentos eletrônicos e o consumo digitalmente exponencial.
 
Quando ainda não estávamos habituados aos repertórios e interfaces dos softwares hoje tão populares, dominá-los era um privilégio. Em 1998, ao me aliar com o cotidiano de uma agência de publicidade, o cenário apresentava um panorama diferente e de algumas peculiaridades passíveis de romantização.
 
Era uma rotina mergulhada em volumosos livros de referências e gigantescos bancos de imagens impressos - além de muito café, cigarros e Coca-Cola. Habituei-me à profissão seguindo sempre as orientações oferecidas com altruísmo pelos diretores de arte. Fora isso, quase tudo dependia das tentativas e erros e da observação.

O que nos cerca hoje é menos adverso. As prerrogativas democráticas de acessos aos meios acadêmicos e a velocidade instantânea da comunicação são definitivas. Um caminho aberto aos interessados em dominar e evoluir nos diferentes campos de aprendizado - dentre eles, as Artes Gráficas.
 
Os recursos também são infindáveis: bancos de imagens, editores online, elementos pré elaborados, IAs Generativas (Inteligências Artificiais), etc. Somos servidos de alternativas e facilitadores diversos, progressivamente…  Com esses inúmeros recursos, o profissional está situado em uma realidade diferente de um passado em que as jornadas criativas exigiam processos exaustivos e desdobramentos bem mais morosos.

A falta de ambição com a Arte revela sentimentos opostos entre as pessoas. Embora muitos pensem no desenho como uma brincadeira inocente, ou...

A falta de ambição com a Arte revela sentimentos opostos entre as pessoas. Embora muitos pensem no desenho como uma brincadeira inocente, outros questionam por que não tomo uma iniciativa em busca de maior reconhecimento. Desenhar em meu canto, ou me tornar um milionário - tanto faz, ambos estão entre aconselhamentos frequentes. Acontece que a Arte pode ser tudo, inclusive o que nos cobram. E também é possível ser utilizada de forma terapêutica. Após ter me declarado, aqui mesmo, como um hobbysta, voltei a arranhar o mesmo assunto em outros posts, relembrando o papel de minha jornada Artística. A função de meu blog é essa: a de ser documental sobre esse paralelo peculiar da vida.
 
Dando corda aos leigos, a Arte pode sim ser um brinquedo, bem como ser vendida, rotulada e demais propostas comercialmente cabíveis. Torná-la um produto, oferecendo um lugar ao sol aos que assim desejarem, está dentre todas as possibilidades. Nem por isso, deixa de fazer bem e encantar. Porque Arte conduz sensações, mensagens e... sentimentos. Todos nós sabemos disso, dispensa-se a necessidade de ser artista para defender tal ponto de vista. Nem entender de Arte se faz necessário. Somos tocados quando temos o mínimo de sensibilidade.  O tipo e a modalidade de Arte pode dialogar melhor dependendo da pessoa. Afinal, há muitas formas de expressão oferecendo opções para cada preferência. Gostos pessoais não precisam ser debatidos.
 
Falando de mim, as emoções invocadas pela Arte estão no meu dia a dia. Um exemplo muito recente, foi o de eu ter encomendado um presente para o meu irmão. Contratei um artista para fazer um diorama artesanal com a imagem de um dos joguinhos do antigo computador pessoal da casa. O senhor ZX Spectrum foi responsável por trazer muitos momentos felizes em nosso convívio no alvorecer da vida. Escolhi um frame do jogo que representava muito aqueles tempos. (Eu poderia postar uma foto do diorama aqui, mas não o farei porque somos muito reservados com detalhes sobre nossas vidas). Quando entreguei a peça a ele, foi uma explosão de sentimentos, não só nele, mas em nós dois. Passamos o horário do almoço todo admirando a peça e conversando sobre os dias aos quais ela nos remetia. Os abraços foram fortes.
 
Há alguma dúvida do porquê é interessante comprar Arte? Para mim, nenhuma. Há magia em algo que carrega consigo uma alma e um bagagem emocional. Deixar-se envolver pela criatividade é insubstituível. Nos tempos atuais, alguns podem ter se esquecido desses valores, pois vivemos em uma rotina eletrônica, dentre imagens e textos gerados por máquinas, algoritmos e o consumismo de manufaturados. Não me posiciono de maneira radicalmente oposta a tudo isso, entretanto não posso concordar totalmente com tais artificialidades se tomando dominantes em nossos espaços. Desse jeito, seremos afastados da essência de obras sobre as quais houveram esforços intelectuais, a subjetividade e o afeto, bem como as tradições e os legados culturais de séculos. É primordial enxergarmos os valores reais do que nos cerca, em especial, do que nos alimenta o espírito.