
Como assim o descrevo, o trabalho alcançou valor, adquiriu importância e foi além: transformou-se em um produto possível de ser oferecido como um presente. Presentear e ser presenteado me causa desconforto. Explicar isso coerentemente é difícil. Para mim, esse tipo de envolvimento me faz sentir encabulado. Em contrapartida, vejo a minha Arte como o presente mais sincero que eu possa oferecer. Veja: tais sentimentos reforçam as minhas convicções de meus pensamentos se voltarem mais à criação e serem menos lógicos.
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Na fase do esboço é preciso mão leve. |
Em uma análise rápida, há evidências sobre como eu surpreenderia singelamente a minha "leitora". Entendendo cada parte da ilustração chegamos ao todo. Concebo, assim, uma imagem e suas alegorias. Executo cada detalhe utilizando de algo ao que me refiro como "Arte Gráfica"... a rigor, o ato de "grafar". A grafia sugere formas e conceitos, alimentando as percepções e os pensamentos.
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Meu sketchbook segue recebendo nanquim semanalmente. |
Ao vermos a pegada de um tênis em um chão de terra, imediatamente associamos ao calçado. Saberemos aproximadamente o número comparando aos nossos pés. Se a marca do fabricante estiver presente, poderemos supor a suas campanhas publicitárias e estimar até mesmo o valor. Embora nas palavras desse post, e nos traçados de minha ilustração, não falemos de uma linha de produção, a analogia acrescenta bastante sobre as minhas intenções. Neste fazer lúdico, cubro a folha em branco, fazendo uso do improviso, do intencionalmente espontâneo e intuitivo e em suas escolhas mais honestas.
Sou o ator subindo ao palco e acrescentando falas ao script (enquanto escrevo) e faço tal o jazzista com o instrumento musical em suas mãos (enquanto desenho). Tudo ao meu modo, valendo-me da intuição inclinada ao dionisíaco e calando temporariamente os hábitos apolíneos aos quais normalmente sigo. Convertendo meu "modus operantis" habitual, trago na Arte a permissão em me contradizer. Aqui deposito justamente a quebra de qualquer regra. Exato como minha leitora provavelmente apreciaria e daria um sorriso aprovador.
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Desenho finalizado. |
E a quebra de regras é bem-vinda, ela traz emoções de difícil explicação. Houve um evento, em que expus, onde um rapaz pegou uma das prints de minha mesa enquanto eu "não via" e apenas a colocou em uma bolsa e saiu sorrateiramente com a sua apropriação indébita. Inicialmente fiquei furioso, porém o sentimento foi substituído em poucos minutos - pensei melhor e me senti envaidecido. Oras, meu desenho é assim tão valioso ao ponto de alguém querer roubar? Foi o que me pareceu naquele momento.