janeiro 2025 - Homem Quieto

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  A respeito o quinto disco de Mötley Crüe, o clássico Dr Feelgood ( 28 de agosto de 1989, Little Mountain Sound - Electra), há três fatos o...

 A respeito o quinto disco de Mötley Crüe, o clássico Dr Feelgood (28 de agosto de 1989, Little Mountain Sound - Electra), há três fatos o envolvendo. Primeiramente, os músicos finalizaram uma reabilitação, gravando o sóbrios pela primeira vez em anos. Segundo, a figura de um suposto traficante de Sunset Strip (famosa rua das noitadas na Califórnia), E, para terminar, a produção de Bob Rock, trazendo um novo aspecto sonoro ao grupo.
 
Este último fato é o menos relevante, ainda que tenha sido um grande êxito na entrega da produção musical. Então, vamos nos deter na arte da capa - o nosso foco aqui no blog. Pelas mãos de
Don Brautigam (capista de Metallica - Master of Puppets) em parceria com Kevin Brady (tatuador de grandes celebridades do rock), juntamente às ideias de Nikki Sixx (baixista e líder do Mötley Crüe) temos, como resultado, um belo trabalho repleto de simbolismos.

Num primeiro contato, vemos uma adaga com asas de morcego, envolvida por uma serpente e um caveira no cabo - nenhuma novidade para bandas desse gênero. Seguindo uma estética, como já dito, bastante "Heavy Metal" a pintura apresenta uma boa elaboração. As pinceladas são precisas e, mesmo assim, sem pretensões com o realismo. Há uma quebra da simetria com a figura da serpente, quase ocupando toda a lâmina.

A imagem não é um acaso. Ela representa o bastão alado chamado Caduceu, símbolo da contabilidade e da Medicina. Ambos esses aspectos se relacionam com o personagem "Dr Feelgood". Como "Doutor", o traficante trabalha medicando os clientes e contando o dinheiro com a venda de suas consultas. Ao contrário do Caduceu clássico, o do Mötley Crüe não tem duas serpentes simbolizando o infinito, em vez disso, há apenas uma delas voltada para baixo, figurando unicamente a sua peçonha.
 
N
o guarda–mão, as letras "Rx" unidas. Essa abreviação do latim "recipere"  é - ou já foi muito - usada (mais nos EUA que no Brasil) por médicos em suas prescrições de medicamentos. Além de ser um indicativo para a as recomendações medicinais, também representa uma prece para que o tratamento seja efetivo. O "Rx" tem origem na mitologia egípcia, que nos conta sobre o deus Horus ter um olho arrancado pelo seu tio Seth, e depois sendo curado pela deusa Troth. O Olho de Horus cicatrizado estima "recuperação, a saúde e a proteção”.

O logotipo, onde se lê o nome do grupo, foi repaginado, sendo ele guarnecido por caveiras estilizadas. O desenho a letras são secreções viscosas escorrendo. As trenas das vogais "o" e "u", além de também serem caveiras, são claramente um par de piercings íntimos. Muito de acordo com as temáticas vistas nos aspectos líricos do grupo. O título do álbum também apresenta a sigla "Rx" na grafia, reforçando a simbologia proposta pelo trabalho.
 
Uma arte de capa refinada para um disco estupendo. Quem já ouviu Dr Feelgood sabe muito bem a experiência. A capa representa uma época, um marco no Heavy Metal/Hard Rock dentre muitos vistos em sua história. Foi o resultado de um recomeço, tanto pela nova postura dos integrantes diante de suas vidas, quanto pela condução tão harmoniosa com a sua obra.

As tradicionais equipes criativas, das agências de publicidade, estão entregando a vez a profissionais liberais (solos ou em pequenos grupos...

As tradicionais equipes criativas, das agências de publicidade, estão entregando a vez a profissionais liberais (solos ou em pequenos grupos). Eles dominam, contemplam e até vão além das referidas prestadoras de serviços.
 
Estamos presenciando a era mais “visual” dentre todas na história. Há tempos, a aparição nas telas e monitores em torno do mundo deixou de ter a indiferença dos líderes corporativos. Variados setores empresariais estão preocupados com a presença nas mídias mais acessadas. Deste modo, recorrem amplamente às Artes Gráficas, em busca de sua proposta mais imprescindível: a de entregar visibilidade e um lugar de destaque no mercado.
 
As disciplinas de propaganda (do design ao copywriting) receberam um impacto irreversível logo após virada do milênio. A distribuição regular da banda larga nos polos distante do planeta foi vital. Assim, a valorização multimídia, bem como as novas linguagens tecnologicamente disseminadas, fizeram com que a vanguarda da comunicação visual mudasse radicalmente os seus conceitos.
 
Não é de hoje que as Artes Gráficas se caracterizam por beber sempre da sua própria história, usando constantemente a reciclagem, ou a ruptura com tendências anteriores. Direções retomadas ao longo da primeira metade dos anos 10, junto ao desvio da atenção às velhas mídias e o avultar dos entretenimentos eletrônicos e o consumo digitalmente exponencial.
 
Quando ainda não estávamos habituados aos repertórios e interfaces dos softwares hoje tão populares, dominá-los era um privilégio. Em 1998, ao me aliar com o cotidiano de uma agência de publicidade, o cenário apresentava um panorama diferente e de algumas peculiaridades passíveis de romantização.
 
Era uma rotina mergulhada em volumosos livros de referências e gigantescos bancos de imagens impressos - além de muito café, cigarros e Coca-Cola. Habituei-me à profissão seguindo sempre as orientações oferecidas com altruísmo pelos diretores de arte. Fora isso, quase tudo dependia das tentativas e erros e da observação.

O que nos cerca hoje é menos adverso. As prerrogativas democráticas de acessos aos meios acadêmicos e a velocidade instantânea da comunicação são definitivas. Um caminho aberto aos interessados em dominar e evoluir nos diferentes campos de aprendizado - dentre eles, as Artes Gráficas.
 
Os recursos também são infindáveis: bancos de imagens, editores online, elementos pré elaborados, IAs Generativas (Inteligências Artificiais), etc. Somos servidos de alternativas e facilitadores diversos, progressivamente…  Com esses inúmeros recursos, o profissional está situado em uma realidade diferente de um passado em que as jornadas criativas exigiam processos exaustivos e desdobramentos bem mais morosos.

A falta de ambição com a Arte revela sentimentos opostos entre as pessoas. Embora muitos pensem no desenho como uma brincadeira inocente, ou...

A falta de ambição com a Arte revela sentimentos opostos entre as pessoas. Embora muitos pensem no desenho como uma brincadeira inocente, outros questionam por que não tomo uma iniciativa em busca de maior reconhecimento. Desenhar em meu canto, ou me tornar um milionário - tanto faz, ambos estão entre aconselhamentos frequentes. Acontece que a Arte pode ser tudo, inclusive o que nos cobram. E também é possível ser utilizada de forma terapêutica. Após ter me declarado, aqui mesmo, como um hobbysta, voltei a arranhar o mesmo assunto em outros posts, relembrando o papel de minha jornada Artística. A função de meu blog é essa: a de ser documental sobre esse paralelo peculiar da vida.
 
Dando corda aos leigos, a Arte pode sim ser um brinquedo, bem como ser vendida, rotulada e demais propostas comercialmente cabíveis. Torná-la um produto, oferecendo um lugar ao sol aos que assim desejarem, está dentre todas as possibilidades. Nem por isso, deixa de fazer bem e encantar. Porque Arte conduz sensações, mensagens e... sentimentos. Todos nós sabemos disso, dispensa-se a necessidade de ser artista para defender tal ponto de vista. Nem entender de Arte se faz necessário. Somos tocados quando temos o mínimo de sensibilidade.  O tipo e a modalidade de Arte pode dialogar melhor dependendo da pessoa. Afinal, há muitas formas de expressão oferecendo opções para cada preferência. Gostos pessoais não precisam ser debatidos.
 
Falando de mim, as emoções invocadas pela Arte estão no meu dia a dia. Um exemplo muito recente, foi o de eu ter encomendado um presente para o meu irmão. Contratei um artista para fazer um diorama artesanal com a imagem de um dos joguinhos do antigo computador pessoal da casa. O senhor ZX Spectrum foi responsável por trazer muitos momentos felizes em nosso convívio no alvorecer da vida. Escolhi um frame do jogo que representava muito aqueles tempos. (Eu poderia postar uma foto do diorama aqui, mas não o farei porque somos muito reservados com detalhes sobre nossas vidas). Quando entreguei a peça a ele, foi uma explosão de sentimentos, não só nele, mas em nós dois. Passamos o horário do almoço todo admirando a peça e conversando sobre os dias aos quais ela nos remetia. Os abraços foram fortes.
 
Há alguma dúvida do porquê é interessante comprar Arte? Para mim, nenhuma. Há magia em algo que carrega consigo uma alma e um bagagem emocional. Deixar-se envolver pela criatividade é insubstituível. Nos tempos atuais, alguns podem ter se esquecido desses valores, pois vivemos em uma rotina eletrônica, dentre imagens e textos gerados por máquinas, algoritmos e o consumismo de manufaturados. Não me posiciono de maneira radicalmente oposta a tudo isso, entretanto não posso concordar totalmente com tais artificialidades se tomando dominantes em nossos espaços. Desse jeito, seremos afastados da essência de obras sobre as quais houveram esforços intelectuais, a subjetividade e o afeto, bem como as tradições e os legados culturais de séculos. É primordial enxergarmos os valores reais do que nos cerca, em especial, do que nos alimenta o espírito.